Epidemia da Austeridade | Cortes na Saúde fazem disparar a mortalidade
“O caso curioso de mais 600 mortos por semana” é o título do artigo científico publicado pelo investigador científico e jornalista Nigel Hawkes no British Medical Journal a 9 de Agosto. Refere-se ao número de mortes acrescidas em 2013 para a Inglaterra e Gales, referindo-se apenas a maiores do que 65 anos de idade. Perante a ausência de factores externos que provocassem este fenómenos, como uma epidemia, alterações climáticas, eventos extremos ou uma guerra, os cortes no Sistema Nacional de Saúde (NHS) e a degradação da saúde destes britânicos é a explicação mais clara para este aumento de 5,6% da mortalidade em 2013.
O registo histórico do declínio da esperança média de vida nas intervenções externas de FMI e Banco Mundial é claro: só na Rússia a esperança média de vida caiu dos 65 para os 57. Na África Subsahariana as intervenções externas fizeram a esperança média de vida recuar décadas desde os anos 70.
Hoje as consequências da austeridade estão em pleno coração da Europa. Hawkes revela no seu artigo o aumento de 5,6% para as primeiras 27 semanas de 2013, que se soma ao aumento de 5% da mortalidade em 2012.
Começando em 2012, o número de mortes acima dos 65 anos tem sido cada vez maior, e por grandíssima margem quando comparado com o período de 2008 a 2011. Para a população abaixo de 65 anos as alterações não são significativas, mas nas camadas mais velhas da população tem havido muito mais mortes do que antes da reforma do Serviço Nacional de Saúde (National Health Service), incluída nas políticas de austeridade do governo britânico. Nas primeiras 26 semanas de 2013 houve cerca de 10500 mortes por semana, mais 600 do que seria de esperar. Isso significa mais 15600 mortos até agora em 2013. Este aumento é elevadíssimo, especialmente porque contrasta agudamente com a constante descida do número de mortes nas décadas anteriores – e não houve qualquer divulgação pública destes factos, contrário do que ocorreria, por exemplo, se 4 ou 5 pessoas tivessem morrido de gripe. Não tendo havido um surto de gripe, uma epidemia, um desastre natural ou uma guerra, a explicação para esta situação estará relacionada com os cortes na Saúde Pública e a consequente degradação geral do estado de saúde da população britânica, onde como em outros países expostos à austeridade, há um aumento de incidência de depressões, problemas psicológicos, mal-nutrição e doenças nervosas.
Na Bélgica o Instituto Belga para a Saúde Pública relatou em Junho de 2013 que houve um acréscimo de 10% nas mortes de cidadãos e cidadãs acima dos 65 anos (correspondentes a mais 700 mortos por mês). Nenhuma causa provável foi identificada uma vez que as circunstâncias climatéricas, os níveis de poluição do ar e os casos de gripe foram normais. O instituto não contabilizou, claro, os cortes no sistema de Saúde pública belga.
Há uma séria relutância por parte dos cientistas envolvidos nestes estudos em introduzirem com seriedade a questão política e económica da austeridade nos efeitos directos que tem sobre a saúde pública. No entanto os dados estão aí e com clareza para quem olhe para eles. As camadas mais frágeis da sociedade estão sob exposição máxima, e em particular os mais velhos expostos aos cortes assassinos na Saúde. Em Portugal, Grécia ou Espanha não existe investigação divulgada sobre este tema, porque teria que concluir que estamos na presença de uma epidemia sanguinária histórica, que mata a população, começando naturalmente pelos mais fracos, incubada pelo Governo e com um vector de contágio chamado Troika. Nem de propósito: a partir de Setembro, toda a cidade de Lisboa funcionará com apenas uma urgência aberta durante a noite. Quantos mortos a mais custará esta medida de austeridade?






