Época tonta, silly season
A imprensa continua a dar azo à chamada “silly season”, tentando desligar a importância dos tempos conturbados em que vivemos simplesmente porque chegamos a Agosto. E assim ficamos a saber que Passos Coelho vai para a Manta Rota descansar, que está muito branco e que o areal faz bem à alma (?). No entanto a crise política não foi de férias, assim como as ordens de Passos Coelho e da troika para destruir o país não foram suspensas – e 5ª feira prepara-se mais um Conselho de Ministros onde a ordem de trabalhos será igual à dos últimos anos: como destruir o Estado Social.
Em Espanha o FMI faz o papel de Cavaco Silva em Portugal e propõe um pacto de salvação nacional, assente no corte de 10% dos salários. Para isso os trabalhadores teriam de apostar na recuperação do desemprego através da instituição (ainda maior) da miséria. Medida similar à TSU apresentada no ano passado em Portugal, o corte dos salários teria como contrapartida uma redução das contribuições para a Segurança Social. Mais uma vez pegar no dinheiro dos trabalhadores e dá-lo directamente aos patrões. O FMI continua, como sempre fez nos últimos 50 anos, a propor a expoliação de quem trabalha para salvar patrões, pedindo para isso “salvações” e “uniões” nacionais. Que não haja muitas dúvidas: se o FMI sair da troika não será por discordância ideológica (pelo contrário), mas apenas por taticismo político perante a iminente catástrofe dos programas de austeridade no sul da Europa.
No entanto adensa-se o cerco ao novo secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, que se sabe desde a tomada de posse ser mais um executivo do sector financeiro privado que realizou contratos ruinosos para o Estado (em nome do gigante Citigroup) através de PPP e SWAPS, recebendo no fim como recompensa a sua nomeação para secretário de Estado. Esta manobra de focar tudo sobre o novo Secretário de Estado, liderada nos últimos dias até por dois históricos líderes do PSD – Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa – terá como efeito secundário desviar as atenções do peixe graúdo que continua em fortes apuros, nomeadamente a Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete. O que revelam os episódios dos novos ministros e secretários de Estado é o nível de degradação absoluta do governo – as figuras disponíveis para integrar este executivo já são poucas, e assumidamente participantes no saque continuamente realizado ao Estado. Assim sendo, não é que a remodelação não tenha servido para nada. Serviu para colocar o Estado ainda mais aberto à voracidade do sector privado.
E assim a época tonta é apenas uma época em que se baixam os padrões da imprensa, enquanto o rolo compressor que passa por cima das pessoas acelera inabalável.
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