Este Texto não É sobre a Grécia
Nenhum véu cobre os dias de hoje. Não existem mais esconderijos nem se mantêm ainda aparências. A austeridade enterrou a democracia na economia, após tantos anos de luta para a conquistar. A sua imposição, não escrutinada e coberta por cortinas de fumo e pela viragem de pernas para o ar da realidade, foi a sentença de abate da perspectiva de uma economia democrática, que visasse o interesse geral ou a distribuição das riquezas do trabalho e da terra. A aparência de democracia, essa maquilhagem democrática que tem por base a ignorância e a complacência, dilui-se cada vez mais, pois sobre ela cai uma chuva de terror propagandístico e de chantagem permanente.
A formalidade do processo eleitoral, com toda a força que transporta, é reconhecida como o sinal máximo de que estamos na presença de uma democracia, mesmo quando todos os aspectos que conferem força a essa ideia são destruídos: direitos no trabalho, igualdade de género, liberdade de imprensa e de opinião, salvaguarda da discriminação, da violência. O processo eleitoral continua a ser o bastião, a luz na escuridão quando se olha para um Estado, mesmo quando grassam a repressão, a violência de Estado, a censura, a discriminação e a maior transferência de riqueza de que há memória.
A formalidade do processo eleitoral, com toda a força que transporta, é reconhecida como o sinal máximo de que estamos na presença de uma democracia, mesmo quando todos os aspectos que conferem força a essa ideia são destruídos: direitos no trabalho, igualdade de género, liberdade de imprensa e de opinião, salvaguarda da discriminação, da violência. O processo eleitoral continua a ser o bastião, a luz na escuridão quando se olha para um Estado, mesmo quando grassam a repressão, a violência de Estado, a censura, a discriminação e a maior transferência de riqueza de que há memória.
Em 1999, o filósofo Slavoj Žižek reflectia sobre a qualidade das democracias e comparava o processo eleitoral e o voto à existência de um botão de fecho de portas num elevador: geralmente, este botão não tem ligação ao sistema e serve apenas para criar nas pessoas a ilusão de que, de algum modo, elas controlam um sistema automático de fecho de portas, quando a sua acção é, muitas vezes, absolutamente irrelevante; no entanto, há alturas em que a acção das pessoas no processo eleitoral e o seu voto afectam, de facto, o sistema e em que, de facto, esse sistema é controlado por elas. Isso é democracia. Imperfeita, falha e longe de resolver todos os problemas.
As sondagens na Grécia dão a vitória a um partido, ou coligação de partidos, que romperá com a troika e contrariará a austeridade, a qual jamais foi a votos. Por isso, chove do resto do mundo uma censura prévia e quasi-unânime sobre o resultado das eleições gregas. Da Comissão Europeia e da Alemanha chegam ameaças inequívocas: a expulsão do Euro, a expulsão da União Europeia, o corte de financiamento internacional, o medo, a fome, o desespero. Esta chuva transforma, de facto, a alegoria de Žižek. Mata-a. Quando o botão de fecho de portas do elevador parece estar, de facto, a funcionar, é preciso bloqueá-lo, enterrar a última ideia democrática ainda existente.
O povo grego sabe em que está a votar. Se de fora chegam vozes tenebrosas sobre a ameaça que pende sobre a Grécia, sobre o medo, a fome e o desespero, os gregos, tal como outros povos europeus, podem responder que isso já não é uma ameaça. O medo, a fome e o desespero são figuras constantes do dia-a-dia na Grécia, em Portugal, em Espanha, na Irlanda, em Itália. Apenas pode vir mais medo, mais fome e mais desespero. Essas ameaças esperam que o medo e o desespero predominem sobre todas as outras emoções humanas e que as pessoas aceitem a sua própria derrota votando no desastre, contra os seus interesses, os seus direitos e contra a sua própria dignidade.
A austeridade só imperará enquanto o medo e o desespero imperarem. E enquanto imperar, a democracia será um espectro, um botão de elevador que não funciona, um placebo.
Os povos da Europa devem unir-se contra a chantagem imposta não só sobre a Grécia, mas sobre todos nós. Devem recusar um caminho já percorrido, já perdido e que se sabe que termina para lá da borda de um precipício. Puderam ignorar todos os avisos prévios, escondidos, diabolizados, escamoteados. Fizeram-no. Mas não podem agora ignorar a realidade. Enquanto os povos da Europa se recusarem a olhar para a sua própria vida e acreditarem que só lhes restam medo e desespero, não haverá democracia. Nem sequer uma farsa democrática.
Este texto não é sobre a Grécia. É sobre nós.
As sondagens na Grécia dão a vitória a um partido, ou coligação de partidos, que romperá com a troika e contrariará a austeridade, a qual jamais foi a votos. Por isso, chove do resto do mundo uma censura prévia e quasi-unânime sobre o resultado das eleições gregas. Da Comissão Europeia e da Alemanha chegam ameaças inequívocas: a expulsão do Euro, a expulsão da União Europeia, o corte de financiamento internacional, o medo, a fome, o desespero. Esta chuva transforma, de facto, a alegoria de Žižek. Mata-a. Quando o botão de fecho de portas do elevador parece estar, de facto, a funcionar, é preciso bloqueá-lo, enterrar a última ideia democrática ainda existente.
O povo grego sabe em que está a votar. Se de fora chegam vozes tenebrosas sobre a ameaça que pende sobre a Grécia, sobre o medo, a fome e o desespero, os gregos, tal como outros povos europeus, podem responder que isso já não é uma ameaça. O medo, a fome e o desespero são figuras constantes do dia-a-dia na Grécia, em Portugal, em Espanha, na Irlanda, em Itália. Apenas pode vir mais medo, mais fome e mais desespero. Essas ameaças esperam que o medo e o desespero predominem sobre todas as outras emoções humanas e que as pessoas aceitem a sua própria derrota votando no desastre, contra os seus interesses, os seus direitos e contra a sua própria dignidade.
A austeridade só imperará enquanto o medo e o desespero imperarem. E enquanto imperar, a democracia será um espectro, um botão de elevador que não funciona, um placebo.
Os povos da Europa devem unir-se contra a chantagem imposta não só sobre a Grécia, mas sobre todos nós. Devem recusar um caminho já percorrido, já perdido e que se sabe que termina para lá da borda de um precipício. Puderam ignorar todos os avisos prévios, escondidos, diabolizados, escamoteados. Fizeram-no. Mas não podem agora ignorar a realidade. Enquanto os povos da Europa se recusarem a olhar para a sua própria vida e acreditarem que só lhes restam medo e desespero, não haverá democracia. Nem sequer uma farsa democrática.
Este texto não é sobre a Grécia. É sobre nós.
Texto de João Camargo
Revisão de Rita Veloso
Fui a uma entrevista de emprego, para uma grande empresa em Portugal, mandaram-me para a agência de emprego temporário que recruta para eles (pois, segundo a empresa, é esta agência de emprego que trata de salários e afins, a empresa nada trata nem quer saber; qualquer questão é sempre com a EET).
Quando ia assinar contrato na EET (posto à minha frente para assinar à presão, sem ter tempo para reflectir), fui confrontado com várias situações «irritantes» no mesmo: a) Em oito horas de trabalho diárias, só existia um período de pausa, de 30m, e para comer (fosse no período nocturno ou diurno); b) Nunca em lugar algum do contrato ou afins, era indicado quais os dias de trabalho e folga (fim-de-semana, por exemplo); c) Existia um subsídio de alimentação, mas só era pago num dos turnos (havia três turnos), pois nos outros dois, a empresa tem refeitório e, desse modo, não pagava o subsídio, pois «dava» a alimentação.
Face a este ponto, questionei se era obrigado a comer o que a empresa dava. Responderam que não. Perguntei, então, se podia levar comida de casa para comer na empresa. Disseram que sim. Assim sendo, perguntei para onde ia o dinheiro de subsídio de alimentação, já que ele existia e eu não comia o que a empresa dava (nem sou obrigado a isso), queria, pois, esse subsídio no meu ordenado. Ui, a tipa da EET foi-se ao ar, começou-me a tratar super mal e dizer que eu andava a fazer exigências quando devia era estar calado e aceitar.
Rejeitei assinar o contrato.
Quase que me insultou por não o fazer.
Welcome to Portugal 2012, my friends.