Exílio precário: Emigrantes estão “no limiar da precariedade”
Certamente que muitos dos que partiram foram assaltados pela dúvida: será que o país para onde vou tem melhores condições de vida do que Portugal? Se em muitos casos é assim, há muitas situações em que tal não ocorre. E se afinal fugir à precariedade nacional significa acabar numa situação de extrema precariedade no estrangeiro?
O plano da precarização não tem um exclusivo nacional. É uma estratégia global que pretende uma concorrência selvática entre os trabalhadores dos vários países na procura de um salário o mais baixo possível e sem direitos sociais ou laborais. Não é à toa que os speakers do regime da precariedade dizem que “não podemos concorrer com a China ou a Índia” mas tudo fazem para, em vez de se subir o nível do trabalho na China ou na Índia, empurrar o valor do Trabalho para se equiparar aos praticados na China e na Índia. Esta situação é particularmente notada neste momento no Sul da Europa. A Alemanha abre grandes processos de recrutamento de quadros no Sul da Europa para poder baixar os salários dos seus próprios trabalhadores e utilizada a desigualdade que fomenta para criar um alinhamento por baixo. É esta corrida para o precipício o principal alimento da subida dos partidos fascistas e xenófobos na Europa: de Inglaterra querem expulsar os romenos ou os espanhóis, de França querem a expulsão dos ciganos, na Alemanha ou no Luxemburgo expulsam portugueses.
Esta semana na Universidade Sorbonne, em França, houve um seminário sobre a nova diáspora portuguesa. Segundo a directora da Faculdade de Línguas Estrangeiras Aplicadas da Sorbonne, os exilados laborais portugueses estão “no limiar da precariedade, em condições péssimas”. Diz Isabelle de Oliveira que “Praticamente todas as semanas recebo doutorandos ou doutorados que vêm bater à porta do meu gabinete para pedir ajuda”, destacando que a nova emigração portuguesa em França está “muito distante dos clichés do passado”. Com uma emigração de mais de 350 mil pessoas nos últimos três anos, muito do futuro do país está neste momento no exílio laboral. O problema é que, tal como nos exílios do passado, as condições de trabalho que recebem as trabalhadoras e os trabalhadores precários emigrados são muitas vezes tão más quanto aquelas que deixaram aqui. Se acrescermos a elevada probabilidade de uma Europa cada vez mais xenófoba e anti-imigrantes, com acordos entre líderes europeus para retirar ainda mais direitos aos cidadãos e cidadãs migrantes, o exílio laboral precário poderá revelar-se uma bomba relógio.
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