Férias e Natal pagos em títulos

O presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) admitiu que o pagamento de parte dos subsídios de férias ou Natal dos portugueses em dívida pública, considerando que contrariaria o “problema nacional” que é o consumo excessivo. (Notícia Jornal Negócios).
É bom ver o altruismo dos patrões com o dinheiro dos outros… Descaramento total.
“A situação [do país] é tão grave que os portugueses devem olhar para o que está a acontecer na Grécia e pensar que ou há aqui uma muito rápida mudança ou então não estaremos muito longe de ter as mesmas medidas”, afirmou José António Barros.
Recordando que “a suspensão temporária dos subsídios de Natal e de férias já aconteceu em Portugal“, Barros considerou que “faz todo o sentido” a substituição do pagamento em dinheiro de uma parte do subsídio por pagamento em dívida pública.
“Se o país está a ter dificuldades em endividar-se no estrangeiro, porque é que o povo não contribui, comprando dívida pública? Se sabemos que temos um índice de poupança das famílias extremamente reduzido, metade do espanhol, então teremos que ensinar as pessoas a fazê-lo e a forma mais prática é dizer que vão, obrigatoriamente, receber uma parte do seu subsídio de férias ou Natal em títulos da dívida pública”.
Na opinião de José António Barros, “se for explicado, as pessoas vão entender que ninguém lhes tirou um tostão, porque a dívida pública é dívida soberana, garantida, e ainda por cima têm um rendimento“. Paralelamente, acrescentou, “vamos estimular a poupança e contrariar um problema nacional grave que é o consumirmos de mais e vivermos acima das nossas possibilidades“.
A proposta, para além de escabrosa, é idiota. A emissão de dívida pública, mesmo que seja absorvida desta maneira, mantém a emissão de dívida para despesas correntes e não permite que esse dinheiro entre na economia e crie empregos.
Deve notar-se que, para o estado aumentar a procura efetiva, deve gastar mais do que arrecada, porque a arrecadação de impostos reduz a procura efetiva, enquanto que os gastos aumentam a procura efetiva.
O ciclo de negócios segundo Keynes ocorre porque os empresários têm “impulsos animais” psicológicos que os impedem de investir a poupança dos consumidores, o que gera desemprego e reduz a demanda efetiva novamente, e por sua vez causa uma crise económica. A crise, para terminar, deve ter uma intervenção estatal que aumente a demanda efetiva através do aumento dos gastos públicos.
Aconselhamos a parte cerebral (isto se a tiver) ditatorial do Zé Tó Barros ver a teoria Keynes.
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