FMI e Governos apertam o cerco a quem trabalha: Zapatero anuncia novas medidas de austeridade, Sócrates anuncia novo ataque até ao final da semana

Depois dos avisos (ou ameaças) notíciados ontem do FMI sobre Portugal e Espanha, os Governos dos mesmos países já demonstraram que perceberam a mensagem. O FMI, que age como eterno soverdouro de recursos dos países em desenvolvimento, surge agora também como extursionista para as pessoas que vivem do seu trabalho mesmo no seio da UE. Grécia, Portugal e Espanha estão já a ser alvos dos ataques da finança organizada no FMI no momento em que esta organização exige aquilo que chama de “ajustes fiscais” nas economias desses países.
Significa que o FMI, com a execução dos governos dos países em causa, está a levar a cabo, e de forma profunda, o desmantelamento dos valores que associamos a uma Europa Social, exigindo que as pessoas que vivem do seu trabalho paguem mais impostos, retirando apoios sociais essenciais (como apoio à natalidade), capturando conquistas históricas, para a Europa e para o Mundo, como o 13º ou 14º mês. 
Tudo em nome da tal estabilidade financeira, dos mercados e dos investidores, quais fiscais beneméritos, que novamente aparecem vestidos de fato e gravata com a imagem de responsabilidade pelos destinos de todas as gentes. Como se não fossem eles os causadores da crise de tantos.


E então, quais são as medidas que Zapatero anunciou para o corte de despesas públicas, contrariando um compromisso assinado há poucos meses com as centrais sindicais espanholas?

– Redução de salários dos funcionários públicos, em média, de cinco por cento em 2010, congelando-as em 2011. A redução será proporcional às receitas.
– Redução de 15 por cento no salário dos membros do Governo.
– Suspensão em 2011 da revalorização das pensões, excluindo as mínimas.
– Eliminação de regime transitório para a reforma parcial em vigor desde 2007.
– Eliminação do cheque-bebé de 2500 euros a partir de Janeiro de 2011.
– Adaptação do número de unidades das embalagens de medicamentos para as ajustar à duração padrão dos tratamentos. Unidoses poderão ser dispensadas mediante fraccionamento das embalagens.
– Ajuda ao desenvolvimento (externa) cairá 600 milhões de euros em 2010 e 2011.
– Redução de 6045 milhões de euros até 2011 no investimento público estatal.
– Previsão de poupança adicional de 1200 milhões de euros por parte das Comunidades Autónomas e Autarquias.
– Pedidos para Subsídio de Dependência serão decididos em seis meses e a retroactividade será eliminada.

Apesar da propaganda feita do Governo espanhol do que “isto toca a todos“, uma vez, por exemplo, vai reduzir o salário dos membros do Governo, tal não tem comparação com aquilo que vai extorquir aos trabalhadores e aos mais fracos, desde a redução dos salários dos funcionários públicos, congelamento das pensões, rebentar com o apoio às famílias através da eliminação do denominado “cheque bebé” de 2500 euros por nascimento, a quem precisa de medicamentos, a quem se quer reformar, outra medida estrela do Executivo socialista espanhol, a lei de dependência, terá os seus critérios alterados, eliminando o princípio da retroactividade…. Um brutal assalto a quem não teve nada a ver com a crise nem lucrou com ela!
Não nos enganemos: é isto que se está a preparar para Portugal. Pedro Passos Coelho já está a preparar um acordo com Sócrates e o Governo, dando o exemplo espanhol. Curiosamente também utilizam o mesmo discurso espanhol do “isto toca a todos“, já que Passos Coelho afirma chorosamente que o primeiro sinal de sacrifício deve partir dos políticos… Pois, tudo muito bonito, mas nas prática são sempre os trabalhadores e mais fracos que pagam a crise!! Teixeira dos Santos recusa-se a anunciar os planos que tem na manga, mas está mais claro do que nunca: preparam-se novas medidas de austeridade sobre os trabalhadores, subtraindo mais uma parte do seu salário, além de uma subida nos impostos sobre o consumo (ou seja, a intervenção mais injusta de todas).

No entanto, no que respeita à necessidade de medidas fiscais, estamos de acordo. São necessárias medidas fiscais que cubram o buraco nas contas públicas. Precisamos que quem mais tem seja chamado a cubrir os buracos de uma sociedade que se organizou para a acumulação injusta e exploratória:
  • Só para o BPN, a CGD (dinheiros públicos) enterrou 4,5 mil milhões de €. 
  • Se o estado prescindir dos serviços “duvidosos” dos administradores da PT (como o habilidoso Rui Pedro Soares), terá de desembolsar 5 milhões de €. 
  • Cada administrador executivo da PT recebe (das contas de todos nós e do estado) cerca de 1,5 milhões de €. 
  • A administração da Jerónimo Martins, cujos trabalhadores (Pingo Doce) estiveram em luta há bem pouco tempo, recebeu 3,2 milhões de € em 2009. 
  • Os seis administradores executivos da GALP receberam mais de 4 milhões de € em 2009.
  • A administração da SONAE (de Belmiro de Azevedo) recebeu mais de 3 milhões de € em 2009
  • A administração do BES recebeu mais de 9,6 milhões de € em 2009
  • A Brisa teve lucros de mais de 158,4 milhões de € em 2009
  • A administação da CIMPOR ganhou mais de 4 milhões de € em 2009
  • A Mota-Engil atingiu lucros de 71,7 milhões de € em 2009
Estes são (alguns dos) números impressionantes que sublinham que o que se apresenta como proposta desta Europa, é uma proposta que retrocede no tempo, em toda a vida, nas opções, e na solidariedade que muita gente conseguiu construir com muitos anos de lutas e dificuldades… e vidas que se perderam para tudo isto. Esta é a Europa onde quem mais ordena são os causadores da crise, investidores, especuladores, “mercados” financeiros  com testas de ferro nas organizações como o Banco Central Europeu, o FMI e mesmo nos Governos. E nós não aceitaremos esta Europa.
Existe uma alternativa que passa por um “ajuste fiscal e social” fortíssimo que cobra a quem mais tem ganho com todo o roubo organizado e a precariedade que tem sido introduzida de forma generalizada. Essa alternativa será colocada em cima da mesa pelas organizações de trabalhadores e precários… já no dia 29 de Maio.  
Nós não pagamos a “crise” deles!
Ver:
…e ainda aqui, aqui e aqui
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