FMI só quer cortar salários e direitos
Foi ontem divulgado o relatório da última avaliação da aplicação do memorando de entendimento entre o Governo e a troika. Neste relatório de avaliação o FMI avalia o cumprimento do memorando por parte do Governo mas não se fica por aí, aproveita também para lançar algumas das suas propostas para o futuro do país: salários mais baixos e corte nos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras.
O chefe da missão do FMI, Abebe Selassie, começa por dizer que Portugal tinha “o mais generoso sistema de subsídios de desemprego da Europa” que tinha “uma duração e taxas de substituição que forneciam um forte desincentivo financeiro à procura de novos empregos”. Em segundo lugar, o relatório indica que é necessário rever o sistema de definição de salários para permitir que as empresas possam ajustar os seus salários ao conceito de produtividade. No final o relatório acaba por se contradizer quando diz que “este programa [de ajuda externa] não terá sucesso se for sobre cortar salários. Tem de ser sobre melhorar a produtividade e conseguir melhores resultados de crescimento”. Ou seja, a única coisa que o FMI propõe é cortar salários, admitindo que esse corte irá invalidar o sucesso do próprio programa associado ao empréstimo, como já está à vista desde que começou.
As contradições do próprio relatório do FMI são a prova da dificuldade que a troika, bem como os seus apoiantes, começam a ter para fazer passar a ideia que a receita da austeridade está a resultar. O aumento do desemprego, a degradação do nível de vida, o aumento da precariedade laboral, o aumento da pobreza, a dificuldade em aceder a cuidados de saúde e à educação de qualidade, a dificuldade em manter uma habitação digna e milhares de outros problemas que são consequência da austeridade imposta pela troika e por quem a apoia, começam a sobrepor-se à hegemonia do discurso da necessidade da austeridade.
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