Fome e Miséria Internacional: FMI quer mais cortes de salários e na função pública

Não há maneira do Fundo Monetário Internacional deixar de ser aquilo que sempre foi: uma máquina burocrática e criminosa ao serviço dos interesses monetários e especulativos, responsável por saques sucessivos a países por todo o globo, a despedimentos massivos e a desenpoderamento das populações. A missão do FMI é o que sempre foi: assaltar os povos do planeta. No seu mais recente relatório anual sobre Portugal, o Fundo repete a receita e diz que são necessários mais cortes sobre salários e pensões, lamentando não terem sido despedidas pessoas suficientes.

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Durante os anos 1970, os lucros do petróleo foram sendo depositados principalmente na banca dos EUA, Japão e Reino Unido. Estes bancos aumentaram o crédito disponibilizado para empréstimos internacionais. A guerra do Vietname foi financiada pela banca privada, criando uma dívida pública massiva do Estado americano. Em resposta a esta situação, os controles sobre os movimentos financeiros internacionais foram desmantelados no país. No final da década, a Reserva Federal dos EUA subiu as taxas de juro para salvar a banca americana da inflação, empurrando os custos com empréstimos para os países que se tinham endividado no período de anterior. Nessa altura, os bancos entraram também em crise, antevendo a forte possibilidade de países irem à bancarrota, em particular da América Latina, pelo que deixou de haver concessão de crédito a esses países, que assim se aproximaram ainda mais da falência. Na altura como agora, a banca privada pressionou os governos a tirá-la dessa situação. Os governos pressionaram o FMI e o Banco Mundial e começaram os famosos bailouts: empréstimos de dinheiro público que assim que entravam nos países endividados saíam imediatamente dos mesmos para pagar as dívidas aos bancos privados ocidentais.

O FMI age como braço financeiro dos interesses da banca privada dos EUA e da Europa no Mundo, o que explica porque foi sempre tão fácil às ditaduras pró-americanas aceder ao crédito do FMI, como ocorreu com Pinochet no Chile, Marcos nas Filipinas, Suharto na Indonésia, Baby Doc Duvalier no Haiti, Mobutu no Congo ou Videla na Argentina. O facto de os défices das balanças de pagamentos e das dívidas públicas terem subido em muitas destas ditaduras após os empréstimos e de muito do dinheiro recebido ter sido utilizado pessoalmente pelos ditadores sem qualquer considerando por parte do FMI dá fortes pistas: a intervenção do FMI e das políticas de austeridade têm um caráter político e ideológico, não económico.

Para aplicar os seus programas, o FMI tem utilizado experientes políticos europeus para liderá-lo. Christine Lagarde é a actual presidente, ex-ministra das Finanças de Sarkozy que ficou famosa pelas suas palavras duras contra o sector financeiro no famoso documentário sobre a crise de 2008 “Inside Job”, quando disse que “a indústria financeira deve servir os outros antes de servir-se a si mesma”. A francesa está sob investigação da justiça francesa por alegadamente ter aceite pagar 285 milhões de euros de dinheiro público ao magnata Bernard Tapié, antigo proprietário da Adidas e do clube Olimpique de Marselha. Substituiu o também francês Dominique Strauss-Kahn, que se demitiu após ser preso e acusado por abuso sexual nos EUA em maio de 2011. Por seu lado, Strauss-Kahn substituiu o espanhol Rodrigo Rato, que saiu do FMI para liderar o Bankia em Espanha (o equivalente o BPN/BES no país vizinho) e está hoje preso por fraude, lavagem de dinheiro e ocultação de bens. De facto, a experiência é um critério relevante para o FMI e é por isso que um cadastro criminal é essencial para se poder liderar esta organização criminosa.

A maioria dos países que seguiu os planos de ajustamento do FMI até ao fim tem hoje défices mais crónicos do que quando começou o “ajustamento”. E são países devastados. Quanto ao resto do Mundo, a análise do FMI é cronicamente errada. Dizia sobre o sistema financeiro dos Estados Unidos meses antes da crise do subprime que “os riscos sistémicos são muito baixos.” e que “os riscos do sector financeiro relacionados com os empréstimos bancários parecem ser relativamente fáceis de gerir”. Da Islândia, dizia um mês antes do colapso da banca que “os indicadores do sistema bancário estão acima dos requerimentos mínimos e os testes de stresse mostram que o sistema é resiliente”.

Em 1992, o FMI implementou um pacote de privatizações de serviços públicos essenciais no Ruanda, que o regime do presidente Habyarimana aprovou. Com o dinheiro do empréstimo o governo comprou armamento à França e aumentou o seu exército, triplicando os gastos militares até 1994. O genocídio do Ruanda começou pouco tempo depois. Morreu um milhão de pessoas, financiadas pelo Fundo Monetário Internacional, que sabia em que é que estava a ser investido o empréstimo. O FMI exigiu no fim que o empréstimo feito a Habyarimana fosse pago com juros pelos seus sucessores.

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