"Geração perdida" no jornal Público de hoje
«A recessão agravou as condições de vida dos jovens
A geração que está agora com 16-25 anos estará perdida?
Geração perdida. A expressão, amarga, integral, acaba de ser usada no Reino Unido para encaixar quem tem agora entre 16 e 25 anos. Em Portugal há indicadores.
Com a recessão, por ser tão difícil encontrar emprego e segurá-lo, uma geração inteira está desesperançada. Se o país não responder, toda ela se perderá, avisam os autores desse estudo encomendado pela organização não governamental Prince”s Trust. Em Portugal, não há qualquer estudo equivalente a este financiado pelo príncipe Carlos – que auscultou 2088 britânicos. Mas há indicadores. A Eurostat acaba de actualizar o fulcral: em Novembro, o desemprego nos jovens até aos 25 anos estava nos 18,8 por cento, abaixo da média da União Europeia (21,4 por cento).
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Por toda a parte se vê desejar um trabalho precário. Não aquele em vez de outro: aquele porque não há outro. “À minha volta está tudo deprimido por não ter expectativas e por ter de conviver com um emprego insatisfatório”, desabafa Sara Gamito, do movimento Precários Inflexíveis. “Ficam com os pés e as mãos atados e vão perdendo o alento.”
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Há focos de protesto, inclusive através de blogues e movimentos, como lembra Cristina Andrade, da Fartos d’Estes Recibos Verdes.
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Factos e números sobre o problema maior de uma geração
– Entre 1999 e 2009 foram criados 273,3 mil postos de trabalho. Mas destruíram-se 221 mil empregos ocupados por jovens.
– Na mesma década, foram criados 117 mil postos de trabalho com contratos permanentes. Mas destruíram-se 175 mil empregos com contratos sem termo ocupados pelos jovens e 77 mil ocupados por empregados com idades entre os 25 e os 34 anos.
– De 1999 a 2009, foram criados 205 mil postos de trabalho com contratos a prazo. Mas destruíram-se nove mil postos de trabalho a prazo ocupados por jovens. Mais de metade dos postos de trabalho criados com contratos a prazo foram ocupados por pessoas com idades entre os 25 e os 34 anos.
– Nesses dez anos, destruíram-se 48 mil empregos com outro tipo de contratos (incluindo recibos verdes). Três em quatro desses postos de trabalho eram ocupados por jovens.
– Em 1999, cerca de 60 por cento dos jovens tinham um contrato permanente. Dez anos depois, esse grupo desceu para 46 por cento do total.
– Em 1999, três em cada quatro desempregados jovens tinham o ensino básico. Dez anos depois, o seu número baixou para dois em cada quatro.
– Em 1999, os jovens desempregados licenciados representavam cinco por cento do desemprego juvenil. Dez anos depois, o seu peso era já de 12 por cento.
– Em 1999, havia nove mil jovens licenciados inactivos (não eram empregados nem desempregados). Dez anos depois, passaram a ser 26 mil. Nesse período, subiu também o número de jovens inactivos com o ensino secundário (de 212 mil para 228 mil).»
O jornal ilustra ainda a “geração perdida” com quatro casos concretos (reportagem completa aqui). Jovens, mais e menos novos, mas tendo em comum o peso da precariedade nas suas vidas: das artes do espectáculo para o call center, a arquitectura sempre a recibos verdes, a investigação científica sem direito a contrato (e eternamente dependente de bolsas, sem garantias) ou o design gráfico eternamente a falsos recibos verdes. São exemplos de quatro vidas que fazem parte do unverso de 2 milhões de precários e precárias actualmente em Portugal.