Governo quer oferecer 1220 investigadores a empresas
Foi noticiado com pompa e circunstância pelo Governo um acordo com a Comissão Europeia que prevê a transferência de 1220 investigadores do Estado para empresas. Este acordo está incluído no programa Portugal 2020 e prevê a alocação de 66 milhões de euros. As vagas são distribuídas consoante a zona geográfica do país (o Norte com 400 vagas, o Centro com 260, o Alentejo com 230, Lisboa com 190 e o Algarve com 140) e o programa prevê que no primeiro ano 75% dos salários sejam financiados pelo estado, no segundo ano este valor baixa para 50% e no terceiro para 25%. O que não foi divulgado foi o valor dos salários que os investigadores, o tipo de vínculo contratual que terão e que relação manterão com os seus laboratórios, Universidades ou centro de investigação de origem. Claramente, o elo mais fraco do acordo não é a prioridade para o governo de Nuno Crato.
O problema, na análise do Governo e do comissário europeu Carlos Moedas, é o seguinte, Portugal tem doutorados a mais, e num mar de criaturas com doutoramentos e pós-doutoramentos, muito poucas trabalham em empresas. É coisa que não se percebe. Para isso, uma só solução: passa o governo a financiar as empresas e deixa-se desse disparate que é apoiar a investigação. Toda a gente sabe, investigação que não produza um produto final patenteável não devia sequer existir.
Vamos desmistificar. Em 2012 Portugal tinha 17.7 doutorados por 100 mil habitantes, um valor muito baixo quando comparado com os restantes países europeus (em 18º lugar, muito abaixo do valor de 45.5 da Suíça, que liderou a tabela, dados PORDATA) e que, desde então, com os cortes no número de bolsas atribuídos por este mesmo governo, não melhorou. Podemos descansar, estamos longe de estar atolados em canudos.
O Governo decidiu, então, comparar a situação em Portugal e na Dinamarca, para se espantar com o facto de tão poucos investigadores trabalharem em empresas. Situações perfeitamente comparáveis, compreendemos o espanto do governo quando deu conta que em Portugal apenas 2.6% dos investigadores trabalham em empresas, contra os 40% na Dinamarca. Só que a Dinamarca, segundo os mesmos valores da PORDATA, tem 27.8 doutorados por 100 mil habitantes, um valor bastante superior ao português, e na Dinamarca o investimento em I&D no ano passado já foi superior a 3% do PIB. Em Portugal, no ano passado, foi 1.36%. Nada como comparar alhos com bugalhos e ficar espantado com o resultado final.
O secretário de estado que anunciou esta extraordinária medida governamental, Manuel Castro Almeida, avisa ainda que o governo vai continuar a investir em I&D, mas que o investimento será através de programas como este anunciado, ou seja, o dinheiro irá directamente para as empresas. Castro Almeida anuncia, orgulhoso, que a Comissão Europeia queria com todo o investimento estadual em I&D fosse directamente para as empresas, mas que, como isso poria em causa a continuação do sistema científico português, o governo negociou um compromisso. Um compromisso que permite que algumas migalhas continuem a ser divididas entre doutoramentos individuais, programas doutorais, concursos de investigador FCT, projectos e centros de investigação. Afinal de contas, pensará Castro Almeida, ter um ou dois historiadores, classicistas, filósofos, sociólogos ou antropólogos no país até pode dar jeito, ficam bem em fotografias quando o senhor comissário europeu nos vier visitar.
O que este governo tenta fazer ignorar é que o sistema científico português já está em perigo de extinção, e os principais responsáveis por esta situação são eles próprios. Num país em que 77.8% dos investigadores nunca tiveram um contrato de trabalho, 69% são bolseiros e apenas 21.5% rejeitam emigrar (dados do Inquérito a Investigadores, ver aqui), que governo decide entregar 66 milhões de euros a empresas, sem sequer garantir o salário e o vínculo laboral destes trabalhadores? Se as empresas querem ter doutorados a trabalhar nelas, porque deve ser o estado a pagá-los, porque não pagam as empresas os doutoramentos? Que tipo de governo decide que só a investigação com aplicação é importante? Que tipo de governo não percebe que o estado tem, sempre, de investir em investigação fundamental para garantir o avanço civilizacional? Um governo que é capaz, em quatro anos apenas, de exterminar com o sistema científico de um país.
Notícia do Público aqui.
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Todos são livres de fazer a investigação que desejarem. Porém, não são é livres de o fazerem com o dinheiro dos contribuintes se tal não gerar benefícios práticos à sociedade. O artigo é contraditório porque a investigação só garante o avanço civilizacional quando tem aplicação prática.
O mais interessante é que qualquer investigação com aplicação prática é automaticamente financiada pelas empresas. O Estado pode ser um elemento potenciador dessa investigação, mas acaba por ser um elemento pouco relevante.
Portanto, tenho que concordar que a medida do Governo não vai alterar em nada a situação porque na verdade continuará é a financiar investigação que nunca teria viabilidade se não ocorresse através de um financiamento que é administrativo e que não avalia adequadamente o valor criado à sociedade.
Ou seja, o que o autor do artigo e o Governo continuam é a pretender financiar com o dinheiro dos contribuintes a criação de empregos que a sociedade não valoriza porque se valorizasse essa actividade continuaria a ser viável sem a interferência do Estado.
Ora, isso é manifestamente injusto porque não é justo que empresas fechem com os sucessivos aumentos de impostos originando desempregados e causando assim pobreza extrema, para proteger uns quantos que não produzem valor à sociedade e continuam a consumir os recursos escassos da mesma.
O autor que escreve neste site deveria perguntar a todos os desempregados o que é que preferiam: ter alguém a fazer investigação sem aplicação prática, mas que talvez, hipoteticamente, garanta uma inovação brilhante num futuro longínquo, ou se prefere ter emprego hoje porque o Governo não teria que aumentar impostos para financiar este e outro tipo de actividades que vivem à custa do Estado e assim empresas ter-se-iam mantido em funcionamento não tendo aberto falência?
Fale com eles e depois pense melhor!
A Marie Curie trabalhou durante anos para isolar e descrever o radio. Trabalhava em investigação fundamental e é a ela e a cientistas como ela que devemos o facto de termos hoje acesso a uma aplicação fundamental em todos os hospitais: a radiografia. Esta evolução só foi possível porque houve investimento em ciência…não faz muito sentido quem dá o dinheiro impor uma condição destas como: só “damos dinheiro se essa ciência tiver uma aplicação”. Até porque não acredito que a Marie Curie soubesse que a investigação a que se dedicou durante anos da sua vida iria ter essa aplicação. Razoavelmente falando, quem trabalha em ciência não pode saber a aplicação do seu trabalho, a não ser que tenha uma bola de cristal.
O que esta medida faz é com que os cientistas tenham de se “vender” às empresas para poderem sobreviver.
Cientistas como a Marie Curie de hoje em dia, ficam obrigatoriamente no desemprego porque o estado deixa de dar dinheiro para as universidade fazerem investigação. E perdemos todos!
Oi Rea, to precisando fazer uma pf3s…mas falta din din. Tf4 canadsa de empregos que pagam somente o piso! Beijos e obrigada mais uma vez, isso sf3 incentiva!