Governo segue o pior caminho da maioria absoluta.
O Governo segue o pior caminho da maioria absoluta. Adiou meses uma resposta à inflação sabendo que o povo pagaria com uma quebra brutal de rendimentos, apresentou agora medidas muito insuficientes, protegeu os sectores que ganham com a crise e deixou cortes permanentes nos salários e pensões, embrulhou as medidas em artimanhas de comunicação que ficaram demasiado à vista. Numa fuga para a frente pelos efeitos da manobra das pensões, puxou do papão da sustentabilidade da Segurança Social: cumprir a lei seria perder 13 anos de vida do sistema. Perante a dúvida e a exigência das contas que mostrassem esse valor, Costa encolheu-se e a ministra gaguejou vários dias, mas a pressão obrigou a mostrar números esta semana. E foi artimanha outra vez, as contas só tinham o agravamento da despesa e sem considerar o aumento das receitas que resultam da inflação. Nesta peça do Negócios, especialistas mostram mesmo como há valores muito significativos deste ano que foram omitidos.
Armindo Silva, economista e um dos especialistas que integram o grupo de trabalho recentemente nomeado pelo Governo para estudar medidas com vista à sustentabilidade da Segurança Social, estima que, só este ano, as contribuições sejam cerca de 1300 milhões de euros acima do previsto. Outros especialistas afirmam que as contas não fazem sentido ou que o exercício do Governo “não tem significado”. As últimas semanas revelam a desorientação, a fuga para a frente e a ilusão autoritária de que o poder absoluto permite contornar a realidade.
Confrontado com os efeitos da cegueira da maioria, António Costa escolheu a irresponsabilidade e para isso mobilizou o seu Governo. Para gerir os seus problemas de gestão política de curto prazo, abriu conscientemente um debate envenenado sobre a sustentabilidade da Segurança Social. Escolheu voltar ao discurso público da incerteza sobre o futuro, como se não fosse possível tomar decisões que garantem os direitos dos pensionistas e assegurar a vitalidade do sistema – no emprego e nos direitos laborais que geram as contribuições, na diversificação das fontes de financiamento, nas políticas públicas em todos os sectores que deveriam contrariar as tendências demográficas adversas. E Costa sabe bem que a desconfiança no sistema é o combustível que alimenta as ambições de privatização, defendida pela direita e aguardada pelos poderes económicos.