Greve Geral e manifestação demonstraram a exigência da alteração de rumo político

Realizou-se ontem mais uma Greve Geral. Lançada conjuntamente pela CGTP e pela UGT, esta greve contou com a participação de milhares de activistas sindicais e dirigentes, mas também, cidadãos e movimentos sociais que se juntaram aos piquetes, à mobilização e à manifestação que, em Lisboa, fez parte deste grande dia de intervenção dos trabalhadores e do conjunto da população. Foi uma greve muito participada, e segundo opinião unânime, incluindo da duas centrais, CGTP  e UGT, mais participada do que a Greve Geral de 2010.

Foram realizados com sucesso muitos piquetes estratégicos que pretenderam defender os direitos essenciais dos trabalhadores, nas fábricas, nos transportes, nos serviços públicos ou nos correios. Através da greve sublinhámos que são os trabalhadores e as suas organizações aqueles que lutam pela sustentação, em controlo público e democrático, dos serviços públicos e do emprego como forma de dinamização da economia. 

Enquanto o senso-comum continua a absorver a vertigem de que “precisamos de mais trabalho e menos greves” (apesar de trabalharmos muito mais horas de que a maioria dos países europeus), os cidadãos juntaram-se para sublinhar nesta greve geral que o maior problema económico do país é precisamente a austeridade, porque destroi os empregos, a economia, o débil tecido produtivo, os serviços públicos essenciais, e como consequência, os direitos dos cidadãos e das cidadãs. Muitos trabalhadores precários, apesar de todas as dificuldades e chantagens, fizeram greve, parando ou diminuindo a capacidade de várias estruturas onde a democracia se afasta do local de trabalho (call-centers da PT Contact, por exemplo).

Salientamos ainda que mesmo com algumas provocações da PSP, e com as intervenções ilegítimas e a roçar a ilegalidade do Corpo de Intervenção, foi possível através da mobilização pacífica de grande número de activistas sindicais e sociais, cidadãos, realizar piquetes decisivos para o sucesso da greve. A utilização ilegítima e ilegal da PSP deve-se às escolhas políticas dos seus comandos, que apesar de não existirem decisões finais dos tribunais sobre o recurso aos serviços mínimos, e no espaço em branco deixado pela lei, utilizam o Corpo de Intervenção para aplicar e fazer prevalecer a vontade (política) de quem está no poder. Um pouco diferentes foram as provocações e agressões de grupos de agentes à paisana que tiveram uma preocupante intervenção em São Bento, onde estava concentrada a manifestação que percorreu as ruas de Lisboa neste dia de Greve Geral. Ocorreram alguns confrontos com a polícia (com 7 detenções, algumas delas feitas por elementos à paisana que tiveram um papel provocador), no momento em que a organização da plataforma 15O procurava realizar uma Assembleia Popular em frente à Assembleia da República. Existem várias testemunhas que presenciaram as agressões e provocações. Apesar do efeito destes acontecimentos sobre a própria concentração – que no momento contava ainda com muitos milhares de pessoas em São Bento – e da oportunidade criada para dominar as notícias, a verdade é que esta foi uma grande Greve Geral e que a força da manifestação demonstrou a vontade que se exprimiu nesta greve.

A manifestação concluiu o dia de mobilização popular e dos trabalhadores, incluindo precários, reformados, desempregados, estudantes e milhares de trabalhadores. Ela foi uma boa demonstração de recusa do plano de austeridade, porque a sociedade o identifica, não como qualquer solução, mas como o problema essencial da economia e da vida dos cidadãos, do emprego e dos direitos. Fica evidente que o movimento dos trabalhadores, o movimento sindical, os movimentos sociais e os cidadãos que a eles se juntam, têm todas as condições para realizar acções grandes, de amplitude nacional, incluindo mais greves ou outras formas de luta e mobilização pacífica, que permitirá dar força às alternativas sociais e económicas que não passam por pagar com direitos dos cidadãos e cidadãs a acumulação, riqueza e previlégios de uns poucos. 

Defender o que é de todas as pessoas e por elas foi construído – ou seja, os serviços públicos, a Segurança Social e os bens comuns; enfrentar a desigualdade, o desemprego e a precariedade; reinvestir na produção; denunciar a escandalosa usurpação na distribuição da riqueza, valorizar o trabalho: é o caminho, esse sim, inevitável, para superar esta crise que nos impõem, para que a economia se estruture de forma mais sólida, com integração de conhecimento e motivação dos trabalhadores para a construção de um país com futuro, onde as pessoas tenham direitos, opções básicas, livres e democráticas.
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