Hora H: União Europeia e a ruptura com a Grécia
Os últimos dias dão todos os sinais de como se degradaram as negociações impostas pelo governo grego à União Europeia. Os chamados “credores” não aceitam renegociar a dívida, exigem mais cortes. Querem que o governo grego ceda em todas as linhas e que implemente mais austeridade, negando o mandato político obtido nas últimas eleições. Pode estar por dias a saída da Grécia do Euro.
As confusas negociações entre a Grécia e a troika (hoje renomeada de “credores”) que decorrem desde a eleição do governo do Syriza encaminham-se para o fim, com o cenário mais credível a ser o não-pagamento (default) da dívida ao FMI. Pode-se hoje falar de uma União Europeia que não consegue lidar com a democracia, que não compreende uma política que não seja a da destruição e que tem como objectivo futuro apenas impor uma estratégia imperial, em que os países periféricos escoam os seus recursos, rendimentos e pessoas para o centro da Europa.
É difícil levar a sério as acusações de radicalismo dirigidas ao governo grego. Recuaram em muito a sua proposta inicial. Mas nos últimos dias ficou claro o jogo tripartido entre Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia: o FMI aceitava renegociar a dívida mas exigia que se cortassem as pensões em vez de se cortarem as despesas militares, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia rejeitavam renegociar a dívida mas aceitavam os cortes nas despesas militares em substituição dos cortes nas pensões, a Comissão Europeia não ligou nada à proposta de aumentar a receita pela perseguição à fraude milionária. No fim, os (des)acordos terão corolário amanhã na reunião do Eurogrupo. Não há nenhuma previsão de que haja uma cedência da troika e Alexis Tsipras, goradas as negociações, já passou ao ataque e finalmente chama aos credores aquilo que eles são: piratas que andam “há cinco anos a pilhar a Grécia” e o FMI de criminoso.
Entretanto nos últimos dias os levantamentos de depósitos bancários na Grécia fizeram com que o nível de depósitos baixasse para os níveis de 2004. Todos os dias há mais levantamentos e teme-se que em breve possa haver a imposição de restrição de movimentos de capitais. A União Europeia parece disponível para auto-destruir-se para poder manter uma política hegemónica de pilhagem sobre os países mais pobres e com os governos mais subservientes. Levantar a cabeça é crime punível com expulsão. A hora H está aí. Depois de Grécia, Portugal será o alvo seguinte dos especuladores e abutres que esfregam a barriga com a possibilidade de mais uma crise sistémica do capitalismo, que dará amplo espaço a saques aviltados e fortunas criminosas. Desta vez a culpa não será da Lehman Brothers, mas sim do Deutsche Bank.
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