Humanidade Vs Produtividade

Sou jovem. Sou qualificada. À minha volta existem outros jovens como eu: qualificados e explorados.

Como motivar os jovens portugueses para a elevação da sua formação se ao mercado de trabalho apenas interessa a sua fragilidade?! A evidenciá-lo temos, no discurso do Sr. Ministro da Economia, argumentos surpreendentes e lamentáveis de motivação ao investimento estrangeiro em Portugal: baixos salários e fraca capacidade reinvindicatica por parte dos sindicatos…

Como jovem trabalhadora, não aceito estes argumentos. Sobretudo, recuso-me a aceitar o gigante de capital e desumanização do trabalho em que as empresas de trabalho temporário se estão a transformar, em detrimento da qualidade das condições laborais.

Fui apresentada a esta realidade de imoralidade e ilegalidade no fim de Janeiro deste ano através da empresa de trabalho temporário Multipessoal. Acabei por ser colocada, por intermédio desta, noutra empresa, a Contact (Es Contact Center – Gestão de Call Centers SA), em Cabo Ruivo, Lisboa, como operadora de call center. E sou então confrontada com a primeira situação anormal: a demora na realização dos contratos, de formação e de trabalho, que aconteceram somente após a segunda semana. Fui, fomos, eu e mais alguns, durante onze dias, mais uma sombra que engordou a tal entidade invisível, os ELES. Uma sombra ilegal, sem direitos. Apenas deveres. Caso alguma fiscalização (se existisse por ventura alguma não conivente com o sistema corrupto actual) surgisse nesta empresa como justificariam a minha presença ilegal e a de outras tantas sombras? Tios, irmãs, cunhadas, primos, enteadas?… Familiares bondosos que se disponibilizaram voluntariamente perante um acréscimo pontual de serviço?! Hilariantemente, no dia em que assinei o contrato acabei por ser despedida, tal como cerca de outros vinte trabalhadores. Faltavam quinze minutos para o fim do turno. Uma das chefes de equipa reuniu a maior parte dos eleitos para o despedimento numa sala e cumpriu, submissa, o que lhe haviam ordenado: informar que naquele minuto preciso, e nos restantes que se seguiriam, não seriam mais necessários… Pronto. É muito fácil despedir. Cada vez mais. Até mesmo nas escadas do metro… É verdade… O meu nome estava no fim da lista… Esqueceram-se de mim… Por sorte, a tal chefe de equipa ainda me encontrou a tempo no metro… Por sorte…! A moral da história? A moral? Era uma vez….

Quero ainda denunciar outras práticas que considero ilegais e imorais. Como a contradição entre o conteúdo do contrato de formação e a metodologia praticada. Passo a explicar: de acordo com o referido contrato, a formação duraria 5 dias e estaria dividida entre teoria e prática, sendo que esta última seria desenvolvida por meio de simulações, ou seja, de exercícios fictícios, fingidos, de imitação da realidade. O que acabou por acontecer foi o aproveitamento dos formandos em contexto real de trabalho, isto é, no segundo dia de formação estávamos já a produzir, realizando estudos válidos e reais… sem qualquer vínculo laboral…

Como o pagamento por meio de senhas de desconto, em locais de consumo vários (nomeadamente o Carrefour), de horas extraordinárias, solicitadas e liquidades pela Contact, sem o conhecimento da Multipessoal ou das outras empresas de trabalho temporário, essas sim, as únicas entidades legais responsáveis pela remuneração dos recursos humanos. Dado que as empresas em causa cobravam à cabeça e de acordo com as horas de trabalho de cada indivíduo, esta tinha vindo a ser uma estratégia descarada da Contact para poupar uns trocados… completamente à margem da lei!

Como a remuneração miserável oferecida, directamente proporcional à precaridade do contrato de trabalho… Direitos? Dignidade?… Assim engordam os que defendem a produtividade de um país sem lei nem moral.

marTA

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