"Iam pondo as pessoas à experiência umas manhãs e tardes a recolherem donativos e de seguida vinham outras" | Testemunhos

phoneguycrop-d18c1e624810bec2dea67c4596a181cba858e849-s6-c10Chegou-nos este testemunho sobre uma “instituição de caridade” do Porto que, alegadamente, usa o período experiência dos trabalhadores para os pôr a recolher donativos, não se sabendo que apoio social realmente oferece.

«Trata-se de um caso sobre uma instituição de caridade no Porto com o nome “Sopro de Carinho”.

Acontece que esta associação não é lícita de várias formas, tanto nos apoios que presta como ao contratar colaboradoras. Vou relatar então o que se passou comigo.

Eu vi um anúncio no jornal que dizia ser de uma instituição que procurava uma telefonista e como estava desempregada liguei imediatamente para o contacto fornecido no anúncio e foi assim que me agendaram uma entrevista. Até aí tudo bem. Fui à entrevista, que foi colectiva e onde foram expostas as condições de trabalho. Consistia no salário mínimo, 40h semanais, o normal de hoje em dia e a função em questão consistia em ser a telefonista da instituição. Fomos todas embora e ficamos de ser contactadas com uma resposta.

Eu recebi, no dia seguinte, um telefonema a informar que tinha sido escolhida e que iria trabalhar uma manhã à experiência para aprender os procedimentos. Lá fui eu no dia seguinte e deparo-me então com uma pequena sala com duas mesas, cada uma com o seu telefone e com uma página da lista telefónica ao lado. Fui mandada instalar-me numa destas mesas e percebo então que o que tinha de fazer não era ser telefonista mas sim telefonar a pessoas a pedir dinheiro. A minha formação, que supostamente seria aquela manhã, consistiu em 10 minutos.

Uma senhora deu-me uma folha com um texto com os detalhes do caso de uma criança que supostamente a instituição estaria a ajudar e disse-me que teria de ler aquilo às pessoas a quem telefonasse. Depois, muito friamente, ordenou-me que focasse pormenores chocantes do caso porque isso seria importante para as pessoas doarem. Fui deixada naquela sala uma manhã (5 horas) agarrada ao telefone a tentar arranjar dinheiro para aquela instituição que não me estava a inspirar a mínima confiança, mas como precisava muito do trabalho decidi ver no que aquilo dava. Na sala onde me encontrava estavam afixados vários papéis, um deles dizia a letras gordas “NÃO SOMOS ASSISTENTES SOCIAIS”, noutro papel podia ler-se o horário permitido para as idas à casa de banho, algo completamente desumano. Esqueci-me também de mencionar que à entrada foi-me pedido que entrega-se o meu telemóvel, o que também me parece de todo incorrecto. Enquanto eu estava naquela sala, supostamente à experiência, reparava que continuavam a entrar pessoas para entrevistas, o que achei bastante estranho.

No fim da manhã, terminei o meu serviço e fui ter com o meu “superior” para ele avaliar o meu serviço e me dizer se eu era ou não contratada. Consegui angariar uma quantia bastante razoável de donativos e fui isso mesmo que me disseram “Foi bastante bom para uma manhã” mas logo de seguida disseram que ainda tinham duvidas e teriam de ver mais vezes o meu desempenho por isso teria de fazer mais umas manhãs e umas tardes à experiência. Acontece que neste tempo à experiência eu não recebia absolutamente nada e angariava dinheiro para a tão caridosa instituição, que de caridosa nada tem. Foi aí que percebi imediatamente porquê que continuavam a chegar pessoas para entrevista. O jogo deles era precisamente esse, iam pondo as pessoas à experiência umas manhãs e tardes a recolherem donativos e de seguida vinham outras e outras. Lucro sem despesa.

Consegui perceber também que aquela instituição basicamente não faz caridade praticamente nenhuma, a que faz é apenas para mascarar a instituição. O senhor meu suposto “superior” ainda teve a lata de admitir que os lucros eram basicamente todos para pagar os seus ricos ordenados. A caridade que fazem é apenas a uma ou duas crianças, pagam-lhe as fraldas e coisas assim deste género que dão imensa despesa como se pode ver. Isto significa que esta instituição anda a enganar as pessoas que doam, que pensam estar a ajudar crianças e no fundo estão é a alimentar esta gente sem escrúpulos, e anda a enganar quem quer trabalhar pondo-os a trabalhar de graça.

Escusado será dizer que depois dessa manhã nunca mais lá pus os pés e até hoje me arrependo de não ter vindo imediatamente embora quando comecei a perceber do que aquele esquema se tratava, mas eu estava desempregada e a necessidade falou um pouco mais alto.»

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