IEFP criativo nas formas de reduzir número de desempregados
De falta de criatividade não podem seguramente acusar o IEFP. As estratégias para reduzir o número de desempregados abundam, ainda que, infelizmente, a mais utilizada não seja arranjar empregos.
Os POCs (Programas Ocupacionais) inserem trabalhadores por quantias irrisórias em postos de trabalho em entidades públicas e privadas sem fins lucrativos, postos que poderiam de outra forma estar preenchidos por verdadeiros trabalhadores com contrato em vez de desempregados-ocupados; o Estímulo 2012 fornece às empresas licenciados e mestres a preços de saldos;
As formações obrigatórias, quer sejam relevantes para o formando ou não, também vão metamorfoseando os desempregados em “ocupados”, e muitos pelo caminho perdem direito à inscrição no centro de emprego, já para não falar dos apoios a que ainda poderiam ter direito;
Eis que agora vos apresentamos uma nova e inovadora estratégia para reduzir o número de chatos a fazer fila à porta dos centros de emprego. Pois é, em cerca de 6 meses que estive inscrita no centro de emprego, recebi o seguinte postal 2 vezes:
Muitos de vocês o terão também recebido, seguramente. Em que consiste? Ora vejamos:
Leia-se, muito explicitamente, a instrução: “Na sequência da sua inscrição para emprego, informamos que ainda não nos foi possível satisfazer o seu pedido de emprego”. E nós sabemos que eles se esforçaram imenso. A mim, pessoalmente, nem me perguntaram a área de formação, e fui taxativamente informada que para ter acesso às ofertas disponíveis no centro de emprego da minha área bastava dirigir-me lá diariamente e consultar os placards de cortiça onde eventualmente algum anúncio poderia ser afixado. Simples e eficaz, não é?
Mas há mais: “ Se continuar interessado, queira devolver-nos este postal devidamente preenchido, no prazo de 10 dias a contar da data do correio”. Um postal enviado por correio normal, sem aviso de recepção, sem registo, apenas um postal de papel enfiado na caixa do correio. Se se extraviar, lá se esfuma mais uma inscrição no centro de emprego, sem qualquer notificação ou explicação. Isto porque “se não responder procederemos à anulação da sua inscrição”. Pois é, aí está o busílis da questão.
Este método está neste momento a ganhar pontos junto de todas as entidades oficiais, que fazem apostas em cada remessa para ver quantas pessoas deixam passar os 10 dias e deixam, assim, como que por magia, de ser desempregadas. O 2º postal, diga-se de passagem, recebi-o em Agosto. Ainda bem que os desempregados não fazem férias, nem têm família sequer que os acolha fora do seu local de residência habitual, não fosse escapar-lhes o postalinho por entre os dedos durante uma quinzena na aldeia, perdendo assim o acesso, não só aos esforços heróicos dos trabalhadores dedicados dos centros de emprego em orientarem as suas carreiras, como aos fantásticos apoios dos programas como o Estímulo 2012 que requerem inscrição há mais de 6 meses. É que seria realmente uma pena não poder trabalhar como arquitecta ou engenheira pelo salário mínimo…
Para finalizar, acrescentemos apenas 2 coisas. Uma é o facto de esta comunicação oficial ser, verdadeiramente, um postal. Isto é, tudo o que ali se responder é do domínio público, aberto para qualquer um ler, isto se se quiser aproveitar o selo incluído. Claro está que isso não tem problema nenhum porque o desemprego deixou de ser um estigma desde o célebre discurso de Passos Coelho. O 2º pormenor é que eu já tinha anulado a minha inscrição no centro de emprego através do site do IEFP há mais de um mês quando recebi este postal pela 2ª vez. Portanto, não sei quanto custarão estes postais com RSF, mas multiplicando pelo número de inscritos nos centros de emprego, incluindo aqueles que já não estão inscritos, é capaz de não ser o método mais barato. Mas lá que é eficaz a combater os números do desemprego, isso é.
Boa Noite recebi um postal desses e não sei como enviar. É preciso escrever algum endereço de morada ? E que se cortar pelo picotado só fico um endereço que não é do centro de emprego.