Impressionante…

Ontem à tarde mais de 200 mil pessoas desfilaram em Lisboa, numa manifestação nacional promovida pela CGTP contra as propostas do Governo para a Revisão do Código de Trabalho.

Muita, muita gente, que não inclui tanta outra que simplesmente não pode ir (como a maioria d@s precári@s, por exemplo). Gente que sabe bem, que sente e pressente todos os dias que o Governo quer aumentar as facilidades que autorizam a exploração e pretende acabar com direitos a que chama agora “privilégios”. É este o “acordo” a que Sócrates quer chegar: durante o Euro2008, espreitando a distracção à volta da “selecção”, prepara-se para passar (ainda mais) a bola para o lado dos patrões, a quem vai apertar a mão, com a UGT a completar o quadro do “consenso”.

É por isso que esta manifestação irritou tanto o primeiro-ministro. “Os números [de manifestantes] não me impressionam, o que me impressiona são os argumentos e, lamento, mas discordo deles”. Sócrates “discorda” da presença na rua de trabalhadores e trabalhadoras enquanto estabelece o “acordo” entre as partes do costume, porque o plano é encenar uma paz social que não existe.

Logo pela manhã, o ministro Vieira da Silva já tinha esclarecido: “não me interessa o número de manifestantes, as nossas propostas não vão mudar”. Afinal, o plano da “flexibilidade” e da “adaptação” é inflexível, porque o compromisso deste Governo é com os poderosos.

É preciso dizer coisas simples. Um “acordo” que não inclui a maioria d@s trabalhadores/as e é feito contra ele/as não é acordo nenhum. Uma revisão que rebenta com a contratação colectiva, que facilita os despedimentos, que abre caminho para o fim dos conceitos de horário de trabalho e horas extraordinárias pagas não é “uma proposta equilibrada”. Uma nova legislação laboral que agrava os problemas fundamentais do desemprego e da precariedade não é “uma reforma modernizadora e essencial”. Uma revisão que legitima e legaliza a precariedade não é feita por “um Governo que, pela primeira vez, teve a coragem de enfrentar o problema da precariedade”.

É impressionante, mas já não impressiona. O Governo Sócrates está num beco sem saída, porque quer governar para favorecer os que engordam com a exploração dos baixos salários, da chantagem do desemprego ou do sub-emprego como modos de vida quase exclusivos e ainda nos convencer que nós é que somos privilegiad@s. 200 mil pessoas “não impressionam” porque Sócrates e Vieira da Silva pensam que prestam contas a outras pessoas. Talvez… mas durante quanto tempo? Se já tivesse aprendido alguma coisa, por exemplo, com o seu actual “parceiro estratégico” em Belém, saberia que o autismo não dura para sempre.

Não há nenhum encontro entre as facilidades para os patrões e as vidas cada vez mais difíceis para quem trabalha. É aqui que se coloca toda a oposição e todo o conflito – e não nos soundbytes fanfarrões de ministros, patrões e algumas cabeças pensantes. Cada vez mais gente sabe que a bota não bate com a perdigota. Nós cá estamos, humildemente dispondo a nossa energia para nos juntarmos a esse confronto.

Tiago Gillot

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