Inês Milagre, Reino Unido :: Investigadores pelo Mundo

banner dossier investigadoresO dossier “Investigadores pelo Mundo” começa esta semana, como anunciámos na semana passada. O primeiro testemunho é de uma investigadora a fazer um pós-doutoramento em Cambridge, no Reino Unido. No testemunho, podemos verificar como as condições de vida dos investigadores são completamente diferentes: a maioria dos investigadores tem um contrato de trabalho e os projectos de investigação têm um apoio muito mais longo e estruturado. Estas condições traduzem-se numa diferença extraordinária nas possibilidades da pesquisa em Portugal ou no Reino Unido.

Esta série testemunhos irá continuar ao longo das próximas semanas. O próximo será o testemunho de Sara Branco, a fazer um pós-doutoramento nos Estados Unidos.

1.Que investigação fazes ( IC, PhD, pós doc, etc), área profissional, e o teu trabalho está integrado num projecto de investigação mais amplo ou é um projecto individual?
Neste momento estou a fazer post-doc em células estaminais, num projecto individual.

2. Que tipo de vínculo contratual tens (bolsa, contrato, etc)? Financiado por quem? Sempre foi assim?
Neste momento tenho uma bolsa de uma fundação europeia, mas quando esta bolsa acabar tenho garantido financiamento, com direito a um contrato de trabalho, para terminar o meu projecto.

3. Que tipo de vínculo têm os teus pares (colegas de laboratório, professores, orientadores)?
A maioria dos meus colegas têm contratos de trabalho a termo (normalmente com duração de 3 a 5 anos), e alguns têm contratos permanentes.

4. Baseando-te na tua experiência, quais as principais diferenças que encontras relativamente à investigação em Portugal?
A principal diferença é no financiamento da ciência em geral e nas condições de trabalho que dão às pessoas que fazem ciência. O instituto onde trabalho, que faz parte de umas das cinco fundações nacionais de ciência, financia os seus investigadores com uma quantia igual à que eles conseguem arranjar com projectos financiados por outras fontes (fundações privadas, projectos europeus, etc), o instituto têm avaliações de 5 em 5 anos e dependendo da avaliação recebem financiamento para o normal financiamento do Instituto durante os 5 anos seguintes. Os projectos de investigação são, geralmente, financiados por mais tempo que em Portugal e com mais fundos.
Outra grande diferença é que a maioria dos gastos do laboratório estão isentos de IVA, o que permite gastar a quase totalidade do dinheiro dos projectos em reagentes e consumíveis que realmente servem para fazer investigação, ao contrário do que acontece em Portugal onde quase um quarto do dinheiro é gasto em IVA.
Finalmente, as pessoas que trabalham em ciência (à excepção dos alunos de doutoramento e de algumas bolsas específicas) têm sempre contractos de trabalho, com todos os direitos e deveres que isso compreende.

5. Tens apoio para fazer uma temporada/trabalho de campo noutro instituto/país para melhorar a investigação que fazes?
Se precisar de ir aprender uma técnica noutro laboratório, fazer trabalho de campo ou ir fazer cursos, isso é financiado por um dos projectos do meu laboratório e, em alternativa, há a possibilidade de concorrer a financiamento do instituto.

6. Qual a percepção pública dos investigadores no país onde trabalhas?
Em Inglaterra, há uma grande aposta na transparência do que se faz em ciência e há uma cultura de comunicação de ciência que tem vindo a aumentar nos últimos anos, que faz com que as pessoas percebam o que um cientista faz e a importância de haver boa ciência a ser feita no país. As pessoas voluntariam-se para ajudar a angariar fundos para instituições sem fins lucrativos, como o CancerResearch UK, participando em corridas ou outros eventos para angariar dinheiro, doando dinheiro ou bens e dando o seu tempo em lojas espalhadas por todo o país que vendem estes bens para angariar fundos para serem usados na investigação científica.

Facebooktwitterredditlinkedintumblrmailby feather