Insustentável

Depois de nos últimos dias ter repetido com entusiasmo o anúncio do fim da recessão em Portugal e que o país tem o maior crescimento da União Europeia, hoje Cavaco Silva disse que os analistas e os políticos que dizem que a dívida pública portuguesa é insustentável são masoquistas. Não é preciso recuar muito, apenas até à mensagem de ano novo de Cavaco, quando disse “as dificuldades que Portugal atravessa derivam do nível insustentável da dívida do Estado e da dívida do País para com o estrangeiro“.

insustentável

A contradição permanente, a mentira e o logro diários são a fórmula da narrativa da troika. Cavaco Silva já demonstrou a sua disponibilidade para desempenhar o seu papel de adereço no decurso da vida política, dizendo-se e desdizendo-se conforme o necessário (recusando, por exemplo, a proposta de governo Passos-Portas aquando da crise política em Junho, para de seguida aceitá-la sem condições). No entanto continua a insistir em contradizer-se directamente. A pergunta é simples: será que Cavaco Silva escreve os textos que lê? Será que lê os textos que escreve ou que alguém os escreve para si? É que se o faz, há de facto algo insustentável na figura presidencial que se mantém apesar da contradição e do aparente abandono da lógica no desempenho do cargo público. As afirmações extemporâneas, desenquadradas e sempre anunciadas numa espécie de riso dificilmente controlado aparentam guardar algo de insustentável. Se Cavaco não lê os textos que devem escrever para si, deveria começar a ter mais cuidado com os seus assessores, cuja insustentabilidade mental parece ser clara. Os seus aliados que já defenderam publicamente que a dívida pública portuguesa é insustentável também já devem questionar a sustentabilidade de Cavaco.

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