Islândia: a revolução na mais velha democracia do mundo

Desde 2008 que a Islândia vive um processo revolucionário, pacífico e silencioso e praticamente sem cobertura na imprensa nacional ou internacional. O povo arregaçou as mangas e saiu à rua. E assim foi provocada a queda de um Governo, feita a negação a condições de pagamento de dívidas públicas que levaram à renegociação com melhores condições, ordenada a prisão dos responsáveis pela crise económica do país e a alteração da Constituição.
Na origem do processo esteve a decisão do governo islandês de nacionalizar os seus três bancos principais: o Landsbanki, o Kaupthing e o Glitnir, cujos clientes eram maioritariamente ingleses e americanos. Nem isso salvou o país da recessão e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi chamado para tirar o país da bancarrota.
O povo revoltou-se, saiu à rua e, pacientemente, com manifestações diárias e pacificas em frente ao parlamento de Reikiavik, provocou a demissão do primeiro-ministro Geir H. Haarden e à queda do seu governo conservador. Das eleições antecipadas que o povo exigiu, surgiu um governo de coligação, entre a Aliança Social Democrata e o Movimento de Esquerda Verde, chefiado por Johanna Sigurdardottir, actual primeira-ministra.

Pode dizer-se “não” aos bancos?
Face ao colapso do banco Landsbanki, entretanto nacionalizado e às consequentes indemnizações aos seus clientes estrangeiros, o Parlamento aprovou o seu pagamento. Os governos britânico e holandês preparavam-se para cobrar a dívida de cerca de 3,5 mil milhões de euros à Islândia. Logo, aos seus cidadãos, que deveriam iam pagá-la durante um período de 15 anos a uma taxa de juro de 5,5%.
O povo saiu novamente à rua para exigir que tal decisão fosse, pelo menos, levada a referendo. Em Março de 2010 assim foi: 93% da população islandesa recusou-se a pagar a dívida, pelo menos naquelas condições.
Os credores repensaram o acordo e ofereceram melhores condições, passando o juro para 3% a ser pago em 37 anos, que foi aprovado em Parlamento com uma margem muito estreita pelo que o presidente islandês chamou novamente o povo a referendo para lhes dar a última palavra.
Onde estão os culpados?
Na semana passada foram detidas nove pessoas em Londres e em Reikiavik (capital da Islândia) devido às suas responsabilidades no colapso financeiro da Islândia em 2008. São banqueiros e executivos estreitamente ligados às operações de resgate do país. E a Interpol emitiu uma ordem internacional de prisão contra o ex-presidente do Parlamento, Sigurdur Einarsson.
Devido à tensão do povo se recusar a pagar uma dívida que o país tinha contraído sem lhes perguntar, o Governo de coligação tinha iniciado uma investigação para que fossem assumidas as responsabilidades pela crise económica fatal do país. Desde então, foi a debandada geral do país para banqueiros e executivos atemorizados.
E agora?

Os islandeses aprenderam com os erros. Daí terem formado uma assembleia recorrendo directamente ao povo, sem especialistas ou políticos, para redigir uma nova constituição, inspirada na dinamarquesa e que reflicta as lições tiradas dos últimos anos. Das 500 pessoas que se candidataram ao cargo, foram eleitos 25 cidadãos sem filiação política.

Uma das grandes novidades desta constituição é fazer da Islândia o paraíso da liberdade de expressão e informação através da International Modern Media Institute. Trata-se de um projecto que faz do país um refúgio seguro para o jornalismo de investigação e liberdade de informação, protegendo fontes, jornalistas e servidores de Internet que alojem informação.

Na Islândia, o povo é soberano. Aqui também pode e deve ser.

(Post escrito com base no artigo Islandia, el país que castiga a los banqueros culpables de la crisis, de Alejandra Abad, saído no “El Confidencial”a 20 de Março de 2011).
Eco do i aqui.

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