Jerónimo Martins entra na guerra de propanganda à custa dos trabalhadores

É sabido que o Grupo Jerónimo Martins e a Sonae optaram neste 1º de Maio por um braço de ferro com os trabalhadores. As lojas Pingo Doce e Continente estiveram abertas e foram feitos vários relatos de pressão e chantagem sobre quem trabalha nestas superfícies comerciais. Isso mesmo pudemos constatar no piquete de greve do CESP no Centro Comercial Vasco da Gama, na manhã do dia 1 de Maio
Chegou-nos agora ao conhecimento que no Pingo Doce o descaramento foi ainda mais longe. Em várias lojas, os clientes eram presenteados com um inqualificável comunicado assinado pela Direcção Executiva do Pingo Doce (carrega na imagem para a ampliares). Em “ler mais” podes ler o comunicado.

“Portugal precisa de trabalho e de sentido de responsabilidade”: assim começa a pretensa “informação aos nossos clientes”. A Jerónimo Martins ultrapassou o campo da publicidade e passou-se para a propaganda pura e dura. Quem lê o comunicado fica com dúvida se ele é mesmo assinado por uma empresa e se estamos mesmo no século XXI.

Depois do espanto e repulsa inicial, é importante compreender esta atitude do Grupo Jerónimo Martins. Este panfleto tem todos os elementos de chantagem e tentativa de submissão dos trabalhadores e da população ao contexto de austeridade e ao avanço na precarização do trabalho. Desenvergonhadamente, defende uma falsa oposição entre o direito ao trabalho e o direito à greve, como se as greves não tenham sido, tantas vezes durante mais de um século, uma forma de luta pelo direito ao trabalho. Mente descaradamente, porque as pressões existiram e existem para os trabalhadores do Pingo Doce, agora também forçados a trabalhar no 1º de Maio. Referir a situação difícil do país e a existência de 600 mil desempregados é o truque para lembrar que temos de aceitar e entrar na chantagem. Admitir que os seus próprios trabalhadores têm baixos salários e, portanto, precisam de fazer trabalho extraordinário é, mais do que não ter vergonha, explicar-nos que é para ser mesmo assim. No apelo final ao “sacrifício” não entra obviamente Alexandre Soares dos Santos, um dos homens mais ricos de Portugal e dono de uma das empresas com maiores lucros nos últimos anos.

Acrescente-se ainda que este comunicado foi entregue, em várias lojas, pelos próprios trabalhadores. Ou seja, quem trabalha para o Pingo Doce foi, neste dia 1 de Maio, duplamente usado nesta operação de propaganda de Alexandre Soares dos Santos e do seu Grupo Jerónimo Martins.

Informação aos nossos clientes
Portugal precisa de trabalho e de sentido de responsabilidade

Num momento de especial gravidade da situação sócio-económica do país, o Pingo Doce tomou a decisão de, rompendo com uma tradição histórica de encerramento das lojas no Dia do Trabalhador, abrir as suas portas neste 1º de Maio.
Na realidade o dia 1 de Maio, a par do dia de Natal (os únicos feriados do ano em que o pingo doce tem, ao longo dos anos, vindo a encerrar as suas lojas), é diferente sobretudo pela carga simbólica que transporta e que a Companhia sempre respeitou, respeita e respeitará. Consideramos no entanto, que nas circunstâncias que vivemos no nosso país há necessidade e valores que têm de falar mais alto.
Trabalhar no dia 1 de Maio de 2011 representará, para os colaboradores que entendam apresentar-se ao serviço, uma remuneração de mais 200%, que acrescem à remuneração de um dia normal de trabalho, e a concessão extraordinária de um dia de folga pelo dia trabalhado.
Esta é a nossa forma de reconhecer e premiar todos os nossos colaboradores que por necessidade, vontade, solidariedade e espirito de serviço e de compromisso com o cliente, com o pingo doce e com Portugal entendam responder, com o seu trabalho, com o seu espirito de sacrificio e com o seu sentido de responsabilidade, à dura crise económica e social que o país atravessa.
Respeitamos, naturalmente, todos os colaboradores que decidam exercer, livremente, o seu direito à greve, sobre os quais não recairá nenhuma outra penalização que não a contabilização de uma falta justificada.
Respeitamos, mas não concordamos. Da mesma forma que respeitamos, mas não concordamos com o sindicato dos trabalhadores do comércio, escritórios e serviços de portugal (CESP) na convocação de uma greve num contexto em que a dureza da situação exige de todos mais trabalho e maior contribuição, e em que há mais de 600 mil pessoas desempregadas em Portugal.
Abrimos as nossas lojas acreditando que estaremos em condições de garantir os níveis de serviço a que habituámos os nossos clientes. Sabemos contudo que poderão existir falhas, pelas quais queremos pedir, desde já as nossas desculpas e para as quais contamos com a sua compreensão.
O Pingo Doce é uma companhia de referência em Portugal, que emprega nas suas lojas cerca de 22 mil pessoas entre as quais há muitos milhares que precisam muito de trabalhar e para as quais qualquer reforço extra do se orçamento familiar, nas actuais cirscunstâncias, assume especial relevância.
É nossa firme convicção que no Portugal de hoje o direito à greve não se deve sobrepor ao direito ao trabalho e que a adversidade só será superada com o espirito de sacrifício e sentido de responsabilidade.
A Direcção Executiva do Pingo Doce
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