João Valente, Inglaterra :: Investigadores pelo Mundo
Retomamos esta semana o nosso dossier “Investigadores pelo Mundo”, que pretende demonstrar, por um lado, que as condições de trabalho de investigadores têm em Portugal, onde estão sujeitos a uma enorme precariedade, não é a única solução. Por outro lado, este dossier mostra que esta mesma situação acaba por levar à fuga de cérebros da geração mais qualificada em Portugal, que busca no exílio melhores condições laborais.
João Valente, a fazer um doutoramento em Inglaterra, na Universidade de Southampton, tem um contrato de trabalho, e descreve ainda como um investimento estruturado na investigação contribui para um clima de excelência na investigação.
1.Que investigação fazes ( IC, PhD, pós doc, etc), área profissional, e o teu trabalho está integrado num projecto de investigação mais amplo ou é um projecto individual?
Estou no início de segundo ano do meu PhD na área dos Metamateriais inserido num projecto financiado pelo Laboratório Tecnológico para a Defesa e Segurança (DSTL) denominado Reconfigurable Photonic Metamaterials.
2. Que tipo de vínculo contratual tens (bolsa, contrato, etc)? Financiado por quem? Sempre foi assim?
Tenho um contrato durante 4 anos mas com salário de 3 anos e meio, creio ser isso que diz apesar de não o ter comigo nem em plena consciência. O contrato foi com a Universidade mas o financiamento vem directamente do projecto da DSTL.
3. Que tipo de vínculo têm os teus pares (colegas de laboratorio, professores, orientadores)?
Somos cerca de 20 membros do grupo. Alguns visitantes de Taiwan, Japão e China em colaborações com os seus grupos ou empresas e durante cerca de 3 meses a 2 anos. Temos pos-docs apenas e investigadores já com uma posição com responsabilidades de leccionar, em qualquer dos casosos contratos são celebrados com a universidade, sendo os primeiros financiados por um projecto especifico e os segundos pela pela própria Universidade, penso eu. Os restantes são alunos de PhD com contratos com a Universidade mas financiamentos de várias instituições.
4. Baseando-te na tua experiência, quais as principais diferenças que encontras relativamente à investigação em Portugal?
Da realidade que para já me dei conta e na qual “habito”, penso que acima de tudo existe uma relação grande entre a indústria e a universidade, quer a nível local como internacional. Existem também fontes “seguras” de investimento na Universidade, sejam governamentais ou privadas, geralmente por intermédio de associaçõesfundações. A Universidade gere estes recursos alocando-os aos diferentes grupos de investigação dependo do impacto da sua investigação e da contribuição que têm para a existência desse financiamento. Os grupos de investigação, por sua vez, reportam resultados a estes investidores directamente e garantem financiamento para a Universidade. Existe uma definição clara de onde cada Universidade investe. Onde se destacam resultados é feito investimento, distribuindo competências e especializações pelo país inteiro. Não existe a dispersão de recursos por tentar agradar a todos. Desta forma criam-se grupos fortes em áreas específicas. Existem recursos e equipamento que permitem um ritmo competitivo e realização de investigação de impacto científico. Crescem os grupos, criam-se indústrias nessas áreas, investe-se em ciência, crescem os grupos (talvez se criem outros)….
Esta resposta é um misto de opinião com conhecimento de causa, como creio ser perceptível.
5. Tens apoio para fazer uma temporada/trabalho de campo noutro instituto/país para melhorar a investigação que fazes?
Existe uma verba para conferências, escolas de verão e workshops, os valores dependem do financiador. Não tenho conhecimento de apoios para intercâmbios mas no meu caso penso que seria possível fazê-lo.
6. Qual a percepção pública dos investigadores no país onde trabalhas?
É talvez a pergunta mais difícil pois estando num país estrangeiro e no meio de investigadores, muitos são também estrangeiros e todos investigadores! Na generalidade penso que as pessoas percebem a sua importância, pois são os cientistas que avançam com curas e tratam do bem estar da sociedade, creio que não têm muita informação do que realmente fazem e como o fazem. Isto pelo contacto com as pessoas que visitaram feiras de Ciência, talvez não uma boa amostra do povo inglês.
by