Junta de Freguesia de Odivelas lança concurso para trabalho gratuito
A Junta de Freguesia de Odivelas divulgou no seu site e outros meios de divulgação que está a recrutar desempregados para trabalhar de forma gratuita nos serviços de limpeza urbana, recorrendo aos Contratos de Emprego Inserção do IEFP. O anúncio divulgado pede desempregados com subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego até ao final de Novembro. A mão-de-obra não remunerada e forçada está a substituir postos de trabalho efectivos por todo o país.
Já denunciámos várias situações a utilização de mão-de-obra forçada, garantida pelo Ministério da Solidariedade, do Emprego e da Segurança Social através dos Contratos de Emprego Inserção e CEI+, do IEFP, mas esta junta de freguesia a abrir “candidaturas” a trabalho não remunerado é um novo paradoxo, quando o trabalho garantido por CEI é basicamente trabalho forçado para desempregados.
A Junta de Freguesia de Odivelas é mais uma entre centenas de juntas e câmaras que por todo o país utilizam este esquema promovido pelo Ministro Mota Soares para retirar desempregados das estatísticas e esconder as graves necessidades de trabalhadores e trabalhadoras num país com mais de um milhão de pessoas realmente no desemprego. A junta contactou os seus fregueses através de email e através do seu site e facebook com a abertura de um “concurso” para os desempregados com subsídios de desemprego ou subsídio social de desemprego para concorrerem a trabalho gratuito por meio de Contratos-Emprego Inserção, para limpeza dos espaços públicos em Odivelas. O Provedor de Justiça já se pronunciou contra este regime de utilização oportunista e permanente da fragilidade das pessoas no desemprego para ocupar postos de trabalho efectivos em órgãos e serviços públicos.
Estima-se que em Portugal haja mais de 70 mil desempregados e desempregadas forçados a trabalhar para manterem o seu subsídio de desemprego (para o qual descontaram enquanto trabalhavam), estando o Estado, no poder central e no poder local a utilizar desempregados não remunerados pelo seu trabalho para substituir funcionários públicos despedidos, requalificados, colocados em mobilidade e em outras modalidades eufemísticas. É uma situação medieval.
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Se há trabalho há emprego e não é fazendo o trabalho com desempregados que se diminiu o desemprego, mas sim empregando os desempregados.Enquanto houver gente a pensar assim, nunca se vai passar disto.
uma vergonha. reividiquem os meios que lhes faltam ou então façam eles o trabalho porque recebem ordenado do orçamento geral do estado e passam os dias sem fazer nada a não ser assinar uns atestados…
Podem chamar o que quiserem. Eu, estava em casa a receber o RSI que é de 178€, um dia entrei no IEFP para tratar de uma situação com o curso que me tinha inscrito mas que não dava para fazer e, depois de ter tratado desse assunto vem a pergunta que se impõe: -E emprego? Alguma coisa? Perguntaram-me se estava interessada e eu, que preferia tudo menos continuar em casa a ver os dias passar, sem resposta de lado nenhum, aceitei Neste momento estou a fazer um CEI+. Recebo 429€ mais sub. alimentação e de transporte. Pago as minhas contas, estou ocupada e continuo inscrita no IEFP.
Podem dizer mal, mas antes 500€ por mês e poder comer sem ter que pedir do que os 178€ do RSI e adormecer sem saber o que vai ser amanhã. São escolhas, ninguem me obrigou, perguntaram se eu estava interessada.
Joana, ninguém lhe chama nada (ou não deveria). O que deveríamos todos fazer era pugnar para que tal não tivesse que acontecer. Que houvesse emprego com condições para todos, por exemplo, que houvesse justiça social. Que o dinheiro da Segurança Social fosse usado para segurança das pessoas, segurança social, ao invés de SWAP e PPP que o Vítor Gaspar fez questão de empenhar (mais de 80% do Fundo de Estabilidade da SS) no último dia como ministro, já sabendo que ia sair, ou seja, empenhou milhões, milhares de milhões, dos portugueses, em especulação. Bem se vê que foi recompensado com um belo tacho onde está agora. Ou seja, primeiro, filie-se num partido que a defenda e não num que defenda os interesses do seu patrão (no PCP a quota é o que o militante pode pagar) e num sindicato que defenda os seus direitos laborais e tal como no caso do partido, que a defenda a si e não ao patrão. O estar filiada num sindicato não tem que ser público, podendo a quota não ser paga por desconto no recibo de vencimento e sim de outra forma, sem ter que «alertar» o patrão para o facto de estar sindicalizada.
A consciência de cada um é o primeiro passo para que tudo mude. A Joana não deve ser criticada pelas opções que tomou. Tomou-as em face do que foram as opções que lhe foram apresentadas, na sua busca pela sua dignidade. Agora, cabe-lhe a si não ficar parada nesse ponto e dar o próximo passo para reforçar a luta para que tudo mude.
Abraço e tudo de bom!
Márcio Guerra
O caso da Joana é o mesmo que muitos outros portugueses. Desempregados, a enviar curriculos sem resposta e na maior parte dos casos sem rendimento, são levados pelo sistema a aceitar qualquer tipo de trabalho. Em muitos casos em puro desespero. Andamos na escola anos a fio, estudamos, alguns de nós, como eu e muitos, muitos outros, vamos estudar para o ensino superior, fazemos estágios, trabalhamos, temos valor, e chegamos cá fora, encontramos um vazio de oportunidades deixado pelo massacre laboral que estes governos malvados e horriveis nos forçam a viver como se fôssemos objectos sem valor. Eu própria já me vi, por força das circunstancias e do desespero, a aceitar trabalho desse género. Parada em casa, deprimida e em desespero, aceitei um trabalho de 500 euros. Aceitei por desespero. Dava para sobreviver? Dava, porque vivo com familiares e há mais alguns, parcos rendimentos a entrar na casa. Dava para VIVER realmente? Não!!! Muito, muito longe de um ordenado justo e que me desse qualquer margem para outras coisas construtivas e positivas:autonomia, independencia – tenho 30 anos, já sinto essa necessidade. Legitimo não?; desporto, investir na continuidade da minha educação, cultura? Não, sem dinheiro não se faz nada disso, com 500 euros não há margem para manobra. Formar familia? Nem pensar! Só se fosse para atribuir vidas incertas a um filho (conheço várias familias que tiveram de regressar a casa dos pais – não quero isso pra mim!); prespectivas de futuro: zero, o contrato é finito e não se sabe quando é que voltarei a ter emprego. E podia continuar, mas só o facto doloroso de passar meses sem trabalho alternados por profissões precarias de 500 euros, altamente insatisfatorias, sempre vividas com medo de um futuro sem luz ao fundo do tunel. Dá para descortinar o fundo do poço a que o pais chegou, pelas próprias palavras que a Joana diz: “continuar em casa a ver os dias passar, sem resposta de lado nenhum, aceitei” “estou ocupada” ” e poder comer”. Quando num pais ocidental, supostamente “moderno”, assistimos a tantos relatos de gente que batalha, não por progressão no emprego, não por estabilidade, não por um novo emprego mais satisfatorio – mas impulsionados pelas necessidades básicas, como o tecto e alimentação, estamos a recuar perigosamente na direcção de um terceiro mundo mascarado de país moderno. Já para não falar daqueles moralismos bacocos e obsoletos de quem diz “olha vês? Lá em Africa e na Siria estão pior”, estamos perante um pensamento ridículo e derrotista, de aceitação de “qualquer condição” em troca de um tecto e um pão na mesa. Um país não pode viver de pessoas amedrontadas, desesperadas e sem rumo, que não podem dar o seu melhor, que são escravizadas por uma “escravatura envernizada” e bem pintada pelos cerebros do marketing e recursos humanos das empresas e da “tanga” do “empreededorismo” como se este ultimo fosse uma luva elastica que serve a todos, esquecendo o principio basico que somos todos diferentes e nem todos são “empreendedores”. Um país não pode viver de empresas onde os patrões ganham milhões ou mais e os empregados ganham 500 ou 400 (já para não falar da praga dos malditos empregos sem salário disfraçados de “estagios não remunerados” que é dos maiores cancros dos últimos anos, vivendo do desespero e do medo de pessoas que não são felizes e vivem de “joelhos” a arrastarem se pelos anos fora sem futuro á vista. Quem governa é que tem de resolver, é o país que se deve adaptar ás pessoas, não o contrario. Nos paísis evoluidos verdadeiramente, como a Suécia, Dinamarca, etc, os salarios não são iguais, mas estão mais nivelados. Chamam-lhes ricos, mas a verdade é que nesses países a maior parte das pessoas é na realidade, da classe média, classe essa que está a morrer em Portugal, e nesses países há condições para viver, e só com condições decentes – remuneração decente, ausencia do sindrome da superioridade ditatorial que empesta os altos cargos aqui em Portugal, condições humanas de emprego e prespectivas de futuro – só assim é que um país pode ser sustentável e um lugar decente para os seus cidadãos darem o seu melhor enquanto trabalhadores e receberem condições para viver decentemente e em condições humanas.
Concordo plenamente. E os mais velhos estão sempre a ver notícias com políticos e a dizerem – vês ali em Africa é pior!
Mas há algo pior que trablhar sem ganhar, viver sem comer??? What the hell…
Eu no meu caso estou em casa recebo o rsi 126€ fui chamada para o CEI + e fui sempre é melhor receber 422€ + 5 de alimentação do que estar em casa a receber 126€. Mas pronto ninguém obriga ninguém vamos porque queremos.