Mais de metade dos recém-doutorados são mulheres

InvestigadorHoje, em pleno Dia da Mulher, o Público noticia esta notícia. Mais de metade dos recém-doutorados são mulheres. E faz um paralelo sobre o que eram os doutoramentos antes de 1970, em que por ano se doutoravam 2 mulheres por ano numa média total de 100 doutoramentos por ano, e o que são agora, onde em 2010 as doutoradas já representaram 54% num universo de 1606 doutoramentos.

Mas não são só os números que são diferentes, mas sim as realidades.

Há 60 anos, a educação para todos/as eram uma miragem, onde a realidade se refletia na desigualdade e discriminação do que era ser mulher, querer estudar e até ser-se investigadora. Ter de lidar com a desaprovação da família por se trabalhar sozinha, independente e, imagine-se, com homens, e um caminho profissional cheio de obstáculos e preconceitos. E claro nos pós-doutoramento, o alcance da carreira eram claras entre homens e mulheres. (vejam-se os exemplos que a noticia dá: Raquel Soeiro de Brito doutorada em 1953 fez uma notável carreira de investigadora, embora pouco reconhecida, e João Cutelo Neiva, doutorado em 1944, acabou em Reitor da Universidade de Coimbra).

Hoje em dia, se os números de mulheres doutoradas é esmagadoramente maior, os/as investigadoras continuam a lidar com o preconceito, precariedade e discriminação na carreira.

A descrença do que é a investigação “Quando é que deixas de estudar e começas a trabalhar?”, a precariedade das bolsas e ausência de reconhecimento da relação laboral, e a falta de equivalência entre os números de doutorados e ocupação de cargos de decisão e chefia, nas universidades ou nos institutos.

Rosa Paiva, catedrática da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e uma das fundadoras da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (AMONET), indica que “Vão-se perdendo mulheres ao longo da carreira”, com “mais mulheres a doutorarem-se mas menos a entrar para as universidades, onde apenas 20% dos professores catedráticos são mulheres”, notando ainda que “os cargos a que as mulheres não chegam nas universidades não são os que dependem de um exame. São aqueles em que as pessoas são escolhidas, grupos extraordinariamente distorcidos em relação ao sexo masculino”.

Quanto à carreira no pós doutoramento, se dantes era o preconceito e a desigualdade que a limitava, hoje em dia é a precariedade e a falta de políticas sérias e comprometidas de apoio à investigação científica. 86% dos doutorados (estudo de 2009) continuam a trabalhar em actividades de investigação, ou seja, de bolsa em bolsa, com a vida a prazo.

 

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