Menos Segurança Social, Mais dramas: Alugar o corpo para pagar comida e contas

O Público faz hoje o retrato de um país injusto e violento para com as pessoas. Cada vez mais mulheres recorrem à prostituição para conseguir sustentar os filhos. Desempregadas ou com trabalhos mal pagos, aceitam vender o corpo para manter a vida que tinham antes de o companheiro as abandonar. Com o ataque permanente à Segurança Social, crianças, mães, pais, todos, são violentados por um sistema que opõe a solidariedade à economia, que divide e que nos tira o chão quando mais precisamos dele para ganhar forças. Podias, podes, ser tu ou eu, ele ou ela. É a proposta de uma sociedade sem solidariedade, sem Segurança Social.

As técnicas da Associação O Ninho aperceberam-se a partir de 2009 que começavam a aparecer nas ruas de Lisboa novas mulheres, com histórias de vida semelhantes: mães sozinhas, inteiramente responsáveis pelo sustento do lar.

“São mulheres de todas as idades que se prostituem para pagar as contas”, contou à Lusa Inês Fontinha, presidente daquela instituição, que trabalha com prostitutas há cerca de 40 anos.

Algumas estavam sem trabalho, outras tinham empregos precários e mal pagos que deixaram de ser suficientes no momento em que o companheiro as abandonou e deixou de ajudar financeiramente a família. Com baixas habilitações literárias, a prostituição surgia como uma solução “temporária”.

“Estas mulheres só o fazem para resolver um problema do momento, porque a ideia é abandonar aquela vida. Mas não é fácil porque muitas vezes não encontram alternativas. Nos últimos tempos, temos tido várias mulheres que recorrem a nós pedindo-nos ajuda porque não querem continuar”, lembrou Inês Fontinha, admitindo que são casos complicados de solucionar.

Mais de 300 mil famílias são de mães com filhos

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2010 havia mais de 346 mil famílias em Portugal com apenas um progenitor e, segundo a socióloga Karin Wall, as famílias monoparentais “são as mais vulneráveis à situação de pobreza”.

A investigadora lembrou ainda o facto de “as mães com filhos, que representam mais de 300 mil famílias, serem mais vulneráveis que os pais sozinhos com filhos”.

Parte dessa fragilidade advém do facto de as mulheres continuarem a ser discriminadas no trabalho: ganham menos que os homens, têm profissões mais desclassificadas, e “em épocas de crise as situações de discriminação tendem a agravar-se”, lamentou Manuela Goias, da União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), sublinhando que “a pobreza tem um rosto feminino”.

“O desemprego cria situações muito graves e há cada vez mais mulheres que passam a recorrer à prostituição para ajudar a família. Vivem em grande sofrimento”, acrescentou Maria Teresa Costa Macedo, presidente da Confederação Nacional das Famílias.

Quando os homens saem de casa, a situação complica-se, principalmente quando eles deixam de ajudar a família. E os casos de falta de assistência paterna têm vindo a aumentar, havendo cada vez mais mães a recorrer ao Fundo de Garantia, um apoio financeiro criado pelo Governo para substituir os pais que não pagam as pensões de alimentos.

“As mulheres estão desesperadas. Aqui há uns anos pediam ajuda à família, mas hoje nem a família pode ajudar”, sublinhou Inês Fontinha, lembrando que estas mulheres vivem entre o medo de ter como cliente um vizinho do bairro ou de serem rejeitadas por um filho que descobre o que andam a fazer.

Via Público (Lusa)

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