Miguel Relvas e os falsos recibos verdes
Miguel Relvas é hoje uma das faces mais visíveis do desgaste dum Governo que, em apenas um ano de implementação das políticas de austeridade e de submissão à troika, parece já antigo e contestado. Das pressões inaceitáveis a jornalistas à revelação da sua licenciatura-express, várias são as razões para que o ministro que se diz “coordenador político” do Governo figure no topo do descontentamento e seja o motivo dum protesto convocado através das redes sociais para hoje à tarde em frente ao parlamento, em que se pede a sua demissão. Menos falada é a sua indisfarçada contradição entre a tentativa de limpar a sua imagem com o tema do “emprego jovem” e aquilo que realmente pensa sobre a precariedade e as condições de trabalho: Miguel Relvas, ministro, alguém com especiais responsabilidades, defendeu há escassos meses em entrevista ao P3 que os falsos recibos verdes são para aceitar, apesar de ser uma prática completamente ilegal e uma das formas mais brutais da precariedade (ver vídeo no link: em particular pergunta 7, ao minuto 4’40).
Ministro Miguel Relvas na entrevista ao P3. Foto de Pedro Almeida, Público.
Nesta entrevista, o ministro dos Assuntos Parlamentares tenta mais uma vez passar a sua suposta preocupação com os jovens, procurando recuperar a sua imagem e a do Governo depois do convite à emigração e outras que tais. Mas a boca fugiu para a verdade e o ministro disse o que pensa: a precariedade, mesmo quando abertamente e reconhecidamente ilegal, é o modelo defendido.
À insistência da jornalista sobre a ilegalidade dos falsos recibos verdes e a raíz do problema ser a ausência dos contratos de trabalho, o ministro contrapôs com a chantagem do desemprego e comportou-se como mero porta-voz dos empregadores que pretendem continuar a não cumprir a lei e a massacrar centenas de milhares de pessoas. “Não há outra saída!”, “quer gerar mais desemprego?, quer gerar mais desemprego?”: é assim que Miguel Relvas responde – não podem existir alternativas, quem as defende só pode querer mais desemprego. Se dúvidas existissem, Relvas deixou clara a intenção do Governo com a implementação do “subsídio de desemprego” para quem trabalha a recibos verdes – que, como sabemos, se concretizou em valores ridículos e na perspectiva de excluir a larga maioria destes trabalhadores – é, na verdade, perpetuar uma realidade injusta e camuflar esta fraude de grandes dimensões.
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Este Relvas pseudo-ministro, que apesar de ter uma licenciatura expresso e fazer umas cenas 'off the record' muito censuráveis a jornalistas, tem uma fluência retórica muito premente e confesso que gosto de o ouvir falar, pois aparenta dizer algumas verdades que estão omissas na sociedade.
Todavia quando há jovens a falsos recibos verdes, e que descontando para a Segurança Social e para IRS ficam com 150€ no final do mês, com as respetivas empresas a investir e a dar lucros chorudos aos seus acionistas e gestores, este Relvas só pode estar mesmo, mesmo, mesmo a gozar com os jovens.
Concordo com o prisma que tem no que concerne à emigração. Deixem-se de tretas, o portuga é muito agarradinho à terrinha. Hoje ir trabalhar para a Alemanha, França, Roménia ou Suécia tem de ser encarado como completamente normal: vivemos num continete de livre circulação de pessoas e bens. Nisso concordo com o homem, e quem o faz, melhora as suas capacidades linguísticas e de adaptação. Agora, os comentários chantagiosos que tece em relação aos falsos recibos verdes tangem o ordinário e o ofensivo.