Ministério dos Negócios Estrangeiros recruta 130 estagiários não remunerados para todo o mundo

O Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou 130 vagas para estágios não remunerados, que encerraram a 14 de Março. Todos os encargos destes estágios ficarão a cargo dos estagiários, incluindo viagens, alojamentos e quaisquer subsídios ou seguros. Além de não receberem salários, o governo propõe a licenciados e mestrados das mais variadas áreas que paguem estes estágios na Líbia, Namíbia, Estados Unidos, Colômbia, China, Brasil, Indonésia ou Japão entre dezenas de outros países. 
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É dada grande ênfase no anúncio do MNE que estes 130 estágios (34 em Portugal e 94 no estrangeiro) não comportam quaisquer custos para o Estado, recaindo os mesmo sob os estagiários. O ministério recruta equipas inteiras de estagiários para algumas missões diplomáticas (como o Consulado-Geral em São Paulo, no Brasil), em que pede Assistentes Sociais, operadores de Call Center, Economistas, Contabilistas, Gestores, especialistas em organização de eventos, técnicos de Tecnologias de Informação e formados em Direito. Para estágios de 6 meses, não remunerados e com as despesas inteiramente a cargo dos estagiários.
Pela dimensão deste programa de recrutamento de trabalho não pago, o Governo parece pretender reconstruir missões diplomáticas com o recurso a estagiários sem direitos. Mais de uma centena de pessoas sem salário ou sequer apoio para instalação e habitação noutros países. Os estágios são para as mais variadas áreas, incluindo História, Arquivo, Línguas, Artes, Literatura e Relações Internacionais, entre outros, e destinam-se a dezenas de cidades por todo o mundo, como Nova Iorque, Caracas, Windhoek, Bogotá, Santiago do Chile, Tóquio, Xangai, Maputo, Jacarta, Manchester, Tripoli, Cairo ou Luanda.
Esta iniciativa do MNE é um verdadeiro programa de recrutamento de mão-de-obra qualificada grátis. A exemplo do que fazem algumas empresas, é o próprio Governo que usa este expediente inaceitável. O recurso a trabalho precário para substituir trabalhadores permanentes é uma prática corrente e histórica por parte do Estado, por decisão de sucessivos governos. Propostas como esta, por parte do Ministério de Rui Machete, sobem o nível para o trabalho não apenas não pago, mas ainda pior, financiado pelos estagiários, sem apoio e a viver em outros países. Esta situação ocorre numa altura em que há vários meses os trabalhadores consulares e em missões diplomáticas protestam pelo agravamento das condições nos países onde prestam serviço, contra despedimento e cortes salariais. Pela dimensão deste programa de recrutamento de trabalho não pago, o Governo parece pretender reconstruir missões diplomáticas com o recurso a estagiários sem direitos.
No entanto, o anúncio dos estágios desapareceu, embora ainda se possam encontrar os ecos que encaminham para o mesmo: http://diplomacia-pt.blogspot.pt/2014/02/estagios-no-ministerio-dos-negocios.html.
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