«Não cessam de despontar sinais bem concretos sobre os fortes desequilíbrios nos quais continua a sustentar-se o setor financeiro» | Renato Miguel do Carmo sobre os Precários, 2º aniversário da Associação
Mensagem de Renato Miguel do Carmo – Sociólogo – sobre o 2º aniversário da Ass. de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis
«As ondas de choque da crise
A crise que se abate, desde 2008, sobre Portugal e alguns países da Europa tem produzido várias ondas de choque sequentes.
A primeira foi financeira e provocada pelo sistema bancário, a segunda foi económica e agravada por uma brutal política de austeridade, a terceira foi social e está a provocar uma delapidação profunda nos diversos setores da sociedade.
São ondas de choque com ciclos temporais distintos, a crise financeira teve um impacto repentino mas profundo, a crise económica foi-se agravando progressivamente e a crise social está ainda a cavar bem fundo. Ao contrário das outras, esta é a mais invisível nos efeitos que desencadeia.
Uma invisibilidade que dificilmente pode ser expressa em indicadores precisos divulgados em estatísticas ou relatórios institucionais. Uma invisibilidade quase impercetível no espaço mediático e bem ofuscada pela visão mainstream dos comentadores de serviço. Mas apesar de terem sido relativamente sequenciais no tempo, nenhuma destas ondas foi verdadeiramente superada, pelo contrário, o que percebemos é que elas não param de reincidir nos seus choques.
Assim, por exemplo, à medida que se aprofunda o empobrecimento e a precarização da vida das populações, não cessam de despontar sinais bem concretos sobre os fortes desequilíbrios nos quais continua a sustentar-se o setor financeiro.
A recente crise no BES é mais um sinal de que as ondas não cessarão de propagar os seus choques se esta situação de governação (ou melhor, de falta dela) persistir no nosso país e na Europa. Como se entende, estas ondas são cíclicas e cumulativas, e para além dos efeitos devastadores, provocarão a prazo uma das maiores regressões civilizacionais ocorridas na Europa em tempo de paz. Esperemos que a propagação continuada do choque não culmine no abismo de um grande conflito europeu.
Vive-se, por isso, um tempo de urgência em que a prioridade da ação política que procura uma alternativa se deve canalizar para a convergência de forças e não para a sua divisão e dispersão.»
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