Não há saídas limpas. Para Passos e Portas a austeridade é para ficar
Ontem à noite o primeiro-ministro fingiu falar diretamente às pessoas mas na verdade falou para os mercados. Com todo o governo presente e Portas do seu lado direito, Passos anunciou a saída limpa do “resgate” da troika.
Começou por associar a saída da troika à liberdade do 25 de abril e depois ao paradigma do projeto europeu. Disse depois que foi duro para os jovens, os trabalhadores, os desempregados, os reformados e os que emigraram e rematou com um “mas”, como se os sofrimentos tivessem valido a pena. “Dia 17 de maio é o dia de cada um de vós” – disse Passos Coelho, anunciando que o conselho de ministros deste domingo teria decidido sair do programa de ajustamento sem um Programa Cautelar.
Informou depois o país das excelentes condições que antevê: credibilidade, apoio dos parceiros europeus, juros baixos, 15 mil milhões de provisões que funcionam como almofada financeira, balança externa favorável.
Finalmente, terminou dizendo que as reformas vão continuar para “democratizar a sociedade portuguesa”.
Ao fim de 3 anos de austeridade e com a confirmação dada pelo próprio Presidente da República de que nos esperam 30 anos mais de “ajustamento”, Passos e Portas falam sem pejo de uma saída limpa.
Nada mais falso. Não há saídas limpas depois de 3 anos de aplicação de um programa de engenharia social violentíssimo que destruiu 341 empregos a cada dia, criou um desemprego real próximo dos 25%, obrigou 300 mil pessoas a emigrarem, aumentou a precariedade para níveis nunca antes vistos, destruiu a contratação coletiva, baixou em quase 10% os salários, acumulou mais de 3 milhões de pobres, com a Segurança Social em risco por causa do desemprego acentuado, aumentou a dívida pública para os 130% do PIB, não resolveu o problema da balança comercial (apesar da farsa das exportações) e manteve um défice bem acima do acordado na primeira versão do memorando.
Numa conjuntura totalmente artificial e dificilmente sustentável, com os países do norte da europa a forçarem uma saída sem plano cautelar e com uma anormal liquidez nos mercados financeiros que fez baixar os juros da dívida, o governo mergulhou na farsa da saída limpa para fins eleitorais. Mas o país está pior e as pessoas vivem muito pior.
No day after do anúncio de Passos e Portas, já se sabe que foi assinado um “mini memorando” com o FMI, onde o governo se compromete a metas de cortes, e que a vigilância periódica do BCE e da Comissão Europeia continuará para verificar os novos cortes.
Se os deixarmos continuar o buraco nas nossas vidas vai continuar a ser escavado cada vez mais fundo.
Não há saídas limpas, sem resposta a austeridade é infinita.
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