Não os Podemos Deixar Descansados :: Tiago Mota Saraiva :: Que se lixe a Troika
Via Manifestação Que se Lixe a Troika
Há dez anos trabalhava fora do país. Tinha um contrato, recebia um salário superior ao que alguma vez tive em Portugal e as perspetivas que tinha permitem-me afirmar que, se não tivesse escolhido regressar, hoje viajaria por todo o mundo e auferiria um salário, no mínimo, dez vezes superior ao que tenho actualmente. Mas escolhi regressar.
A crise já cá estava e servia de pretexto para baixar salários, retirar direitos e generalizar o recibo verde. Para ter mão no nosso futuro montámos um negócio, fomos ganhando trabalho. Diziam-nos que éramos a classe média – essa mistificação que o capitalismo inventou para apaziguar a luta de classes e para esconder a divisão entre exploradores e explorados -, até, patrões.
Em Portugal ou na Grécia – países com os quais o capitalismo alimenta o seu processo de acumulação – em poucos meses, a classe média praticamente desapareceu. Uns foram perdendo o emprego. A maioria o salário. Todos a esperança. A quem nunca foi permitida a passagem a “classe média” foram-lhe sendo retiradas liberdades, foram sendo criadas novas dependências sob a forma de “trabalho voluntário” ou “apresentações” perante o Estado. A alguns, permitem-lhes comer os restos.
Mas se há uma coisa sobre a qual não restam quaisquer dúvidas neste processo de acumulação é que há apenas 1% que decide sobre o futuro de todos e que, de um dia para o outro, podemos ficar sem o dinheiro que temos depositado no banco, podemos ter de tirar os nossos filhos da escola, podemos não encontrar um médico no hospital ou o que comer no frigorífico.
Haverá alternativa no quadro da União Europeia ou do Euro? Ninguém pode ter a certeza. Haverá alternativa no quadro do sistema capitalista? Creio que não.
A certeza que podemos ter é que fizemos mal em deixar o Estado nas mãos de quem o quer privatizar, tal como fizemos mal em deixar o Estado nas mãos de quem dele se quer aproveitar. Fizemos mal em deixar PS/PSD/CDS alambazarem-se de submarinos a robalos, contraindo uma dívida que agora nos dizem pertencer, administrando o seu pagamento a um grupo de agiotas. A certeza que posso ter é que não os podemos deixar governar descansados e que importa unir esforços para fazer frente às suas medidas.
A certeza que posso ter é que se nada fizermos vamos ter de procurar a esperança, um a um, noutras paragens.
TIAGO MOTA SARAIVA»
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A empresa Adicional Logistics, de Santa Iria da Azóia, leva pessoas que estão a receber subsídio de desemprego, a deixar de o receber, para trabalhar na empresa, e estas, ao fim de quinze dias, são mandadas emboras, visto que ao fim de quinze dias têm de assinar um contrato – sempre por empresas de emprego temporário – e ficam sem nada: sem trabalho prometido e sem subsídio desemprego que foram obrigadas a rejeitar, na ilusão de um trabalho.
Não pagam horas extra, quando há pessoas a trabalhar mais de 12h por dia; mais de 40h por semana; nem pagam subsídios nocturnos, quando há gente que faz horários como das 5h da manhã até às 13h.
O sistema é sempre o mesmo: meter alguém quando se aproxima fim do mês – de modo a facturar mais, ao se realizar mais trabalho – e depois despedir antes dos quinze dias experimentais.
Estamos a falar de uma empresa que tem como clientes a Zon; Portugal Telecom (Meo); Matutano; Nespresso; etc.
O clima vigente é sempre o mesmo: quem será despedido esta semana.
O salário é o mínimo, claro.