Nós ouvimos a Sal e Pimenta

A 5 de Novembro a minha Tiazorra favorita, Maria João Lopo de Carvalho, escreveu uma crónica no jornal Metro que se chamava: “Sobre o desemprego!”

Nessa eloquentíssima crónica a Lopo de Carvalho informava as pessoas que a crise havia sido um engano e o facto de ter havido uma corrida aos bilhetes para o concerto de U2 era disso prova. Além disso os restaurantes, assim como os centros de emprego, continuam cheios de gentalha que se queixa de não ter emprego mas que vai a concertos.

Continuando, qual carpideira, a menina fala-nos da trabalheira que teve para contratar professores para leccionarem Inglês (já vos conto porque é que ela quer “contratar” professores de Inglês) e da quantidade de “preguiçosos” que existem nos grandes centros urbanos.

E depois, como faz parte a um bom, ou neste caso boa, enterpreneur, apresenta a solução milagrosa, do tipo “basta juntar água”: meter os desempregados em “postos de trabalho obrigatórios nas tantas IPSS que existem por esse país fora, como forma de justificar o subsidio pago pelos contribuintes.”

Esta solução só podia mesmo ter vindo de um Khemer Vermelho ou de alguém – e cá está a história da vida desta madre teresa que vos prometi – que é dona da Know How, uma empresa que explora professores precários fazendo uso de falsos recibos verdes e outras artimanhas fornecendo carne-para-canhão nas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s).

Pensar em por trabalhadores desempregados em “postos de trabalho obrigatórios” em IPSS seria uma desgraça em diversas frentes:

1) As pessoas que recebem subsidio de desemprego contribuiram com parte do seu trabalho para a Segurança Social, pelo que o subsidio não é uma esmola mas sim um direito e um dever de solidariedade;
2) As pessoas que fossem “obrigadas a trabalhar nas IPSS” não teriam oportunidade de procurar emprego pelo que o mercado de trabalho iria ser afectado;
3) As pessoas que hoje trabalham nas IPSS, muitas delas com vinculos precários como os falsos recibos verdes, estariam sujeitas a uma concorrência salarial impossivel e seriam provavelmente demitidas;
4) Os Programas de Ocupação Culturais (POC’s) já existem e há muitas pessoas que foram despedidas dos seus postos de trabalho e depois recrutadas como POC’s, havendo, na verdade, um subsidio aos empresários;

Como vês cara Maria João Lopo de Carvalho nós ouvimos o que dizes mas não tens razão.

E mais, convido-te a vires comigo uma manhã a um centro de emprego para veres a fila e para falares com os “preguiçosos” que lá estão. Estou certo que têm muito a ensinar-te.

Ricardo Santana
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