Nuno Peixeiro, França :: Investigadores pelo Mundo

banner dossier investigadoresPublicamos hoje o testemunho de Nuno Peixeiro, investigador português a fazer um pós-doc em França.

Nuno Peixeiro começou por fazer o doutoramento em França, com uma bolsa Marie Curie, com um contrato de trabalho. Reside neste país desde 2007, sempre tendo tido acesso a contratos, ao contrário do que acontece em Portugal, onde os investigadores estão sujeitos à precariedade das bolsas.

Nuno Peixeiro | França

1.Que investigação fazes ( IC, PhD, pós doc, etc), área profissional, e o teu trabalho está integrado num projeto de investigação mais amplo ou é um projeto individual?

Neste momento, estou com um contrato a termo certo de investigador de dois anos, que é na realidade de um ano renovável uma só vez. É um projeto individual de investigação fundamental na área das Ciências da Vida, inserido na linha de investigação do grupo em que me encontro.

2. Que tipo de vínculo contratual tens (bolsa, contrato, etc)? Financiado por quem? Sempre foi assim?

Estou em França desde 2007. Fiz o Doutoramento aqui, com uma bolsa Marie Curie. A União Europeia insiste que os bolseiros tenham contrato de trabalho, mas deixa a cada país a liberdade de gerir os impostos e as contribuições sociais segundo a lei local. No meu caso, assinei um contrato de três anos em que uma parte do valor da bolsa foi usado para cobrir os encargos patronais do Instituto. Basicamente, pagava os meus impostos e os deles.

Os financiamentos ministeriais em França são de 3 anos. Sob intensa pressão do Ministério, é cada vez mais difícil obter autorização para um quarto ano. Para financiar o meu fim de tese, candidatei-me a um lugar de Investigador/Docente (“attaché temporaire d’enseignement et de recherche”). Estes primeiros contratos de docência são a termo certo de um ano, renovável uma só vez. Com esse contrato, pude financiar e terminar o meu doutoramento. A carga letiva está estabelecida no contrato e é a mesma que para os Investigadores/Docentes do quadro, ou seja 192 horas, com distinção entre aulas práticas e teóricas.

Aproveitei o segundo ano desse contrato para fazer um pequeno estágio pós-doutoral, antes de assinar um outro contrato de investigador, com outro Instituto, de 1 ano, renovável uma só vez. Este novo contrato é pago pelo Instituto, através do financiamento obtido pelo grupo junto da “Agence Nationale de la Recherche” (o equivalente da FCT).

3. Que tipo de vínculo têm os teus pares (colegas de laboratório, professores, orientadores) e quais as principais diferenças que encontras relativamente à investigação em Portugal?

Os alunos de Doutoramento têm, normalmente, bolsas públicas de 3 anos. O financiamento público, equivalente às bolsas da FCT, é atribuído às Universidades. As temáticas, e o financiamento, são divididas em Escolas Doutorais, que estabelecem os seus numerus clausus e organizam os seus próprios concursos de admissão. Os alunos assinam então contratos de trabalho a termo certo, de 3 anos, com a Universidade. Pagam impostos e descontam como as pessoas normais.

Os pos-doutorandos também são obrigados a assinar contratos de trabalho a termo certo. Os financiamentos de pós-doutoramento são mais variados, mas normalmente estão são financiados por ajudas aos projetos de investigação atribuídas pela “Agence nationale de la recherche” ou por outros organismos de financiamento, locais ou estrangeiros.

Os cientistas permanentes assinam contratos a termo incerto com os Institutos, com as Universidades, ou com os Organismos de investigação pública. Isto em teoria, pois as vagas são escassas e os concursos estão saturados. Nos Organismos de investigação pública, para entrar alguém, tem que sair alguém para a reforma.
É importante salientar que existe uma contagem do tempo de serviço declarado pelos orientadores, o que limita o número de alunos sob orientação a 2,5 alunos por orientador. Esta contagem, associada ao controle do número de horas de aulas, obriga a que a pirâmide hierárquica seja preenchida com um pouco mais de lugares intermédios. A pirâmide fica assim um pouco mais larga no meio, em vez de emagrecer até à fila indiana que se vê nalguns países.

4. Tens apoio para fazer uma temporada/trabalho de campo noutro instituto/país para melhorar a investigação que fazes?

No meu caso, sim. No entanto, isso depende normalmente do financiamento de cada grupo.

6. Qual a perceção pública dos investigadores no país onde trabalhas?

Há respeito pelos investigadores, pela sua contribuição para a Sociedade e pela carreira. Pode parecer pouco, mas o fato de poder escrever em documentos oficiais que a minha profissão é “Investigador” faz-me sentir respeitado e valorizado.

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