O choque financeiro


A notícia da falência de um banco chamado Lehman Brothers provocou a maior queda na Bolsa de Nova Iorque desde o 11 de setembro e fez estremecer o gigantesco casino que é a economia mundial. A crise do sector imobiliário que a gula especulativa desencadeou há um ano fez mais uma vítima: com os seus “activos” ligados ao crédito hipotecário altamente desvalorizados, acumulou perdas de quase quatro mil milhões de dólares no terceiro trimestre deste ano. Os seus administradores, no entanto, receberam 5,7 mil milhões de dólares em prémios no ano passado.

Nem a preço de saldo se encontrou comprador para o quarto maior banco dos Estados Unidos, ao contrário do que tinha acontecido nos casos recentes e semelhantes dos bancos Bear Sterns e Merrill Lynch, ou no caso das sociedades de crédito hipotecário Fannie Mae e Freedie Mac, que em conjunto controlam 80% das hipotecas dos Estados Unidos e foram agora nacionalizadas.

A globalização dos mercados financeiros e a complexidade das transacções internacionais actuais, que muitas vezes envolvem a partilha dos riscos financeiros entre várias entidades, fazem com que a falência destes bancos possa ter implicações graves em entidades financeiras de qualquer ponto do planeta. As vítimas da crise da especulação ainda não são todas conhecidas.

O esforço dos governos e bancos centrais para proteger o “casino” chega ao ponto se nacionalizarem entidades financeiras, impensável heresia há três anos atrás, mas apenas para tentar proteger as actuais formas de mobilidade dos capitais. As intervenções são feitas para salvar entidades falidas ou injectar liquidez nos mercados de capitais. Nenhuma intervenção pública parece questionar ou querer restringir o sistema financeiro especulativo global que domina a economia do planeta.

A falta de liquidez do sistema financeiro propaga-se com facilidade aos sectores produtivos: a taxa de juro tende a subir (o dinheiro fica mais caro) e os investimentos diminuem. Na prática, são postos de trabalho que são eliminados, ou que deixam de ser criados.

Na linha da frente desta guerra estão os trabalhadores precários, os que não têm vínculos às empresas onde trabalham. Quando é preciso, servem de “variável de ajustamento” às flutuações dos mercados financeiros. E em tempos de crise como os que vivemos, é altura de os pôr a andar. Ou de aproveitar para generalizar a precariedade.

João Romão

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