O hiper-realismo de Vieira da Silva


Vale a pena ler esta entrevista a Vieira da Silva, feita por António Ribeiro Ferreira (ARF) e Luís Osório (LO) no Correio da Manhã, onde o senhor ministro fala de salário mínimo, do Código do Trabalho, do desemprego, da Segurança Social, etc. Quase sempre em versão light, é verdade… Mas não deixa de ter vários pontos de interesse.

Destacamos aqui algumas passagens:

(…)

LO: Agora vamos falar do Código do Trabalho, da sua revisão. Na declaração de voto contra o Código do Trabalho de Bagão Félix, o senhor, que era porta-voz da bancada socialista…

– Do PS, não era da bancada, nessa altura nem era socialista.

LO: Era porta-voz para esta matéria…

– Não interessa. Mas fui um dos participantes e assinei essa declaração.

LO: E que criticou asperamente a proposta de Código do Trabalho. Agora parece ter apadrinhado algumas dessas propostas. O que é que mudou entretanto? Mudaram as suas ideias ou as circunstâncias e o realismo político inerente a quem exerce um cargo político?

– O realismo é algo que faz parte de uma gestão política, seja qual for…


(…)

ARF: A propósito disso há um aspecto que é muito contestado que são os seis meses de experiência, como o Código prevê. Ao fim desse tempo o trabalhador é despedido sem indemnização, sem nada e vai embora. Essa norma não irá facilitar, permitir que as empresas tenham uma rotação imensa de pessoas e que no fundo é barata? As pessoas são precárias, andam sempre em experiência.

LO: É a questão central das várias posições.

ARF: As pessoas passam a vida em experiência.

– Não. Repare que não. Se me permite contrariá-lo, esta questão é uma questão que aparece no debate apenas na fase final da elaboração da proposta do Governo. Nem fazia parte da primeira proposta e já nessa altura algumas forças políticas e sindicais diziam que o que nós estávamos a fazer era um crime social. Mesmo antes dessa proposta. Obviamente que todas as alternativas têm risco. Mas eu aqui dirijo-me a quem me está a ouvir ou a ler. Como é que é hoje a entrada de jovens no mercado de trabalho? É com um período de experiência de noventa dias? Alguém conhece muitos casos desses? Ou é com o recurso sistemático a contratos a termo que só depois de completados é que então, sim, as pessoas entrarão ou não na empresa?

LO: É verdade.

ARF: A precariedade existe de uma forma brutal, não é?

– Há sempre riscos. Entre o risco de uma utilização abusiva dos contratos a termo, para servir de período experimental, e o risco que pode existir apenas para alguns trabalhadores – porque há muitos trabalhadores que já têm os 180 dias – e o risco que alguns possam erradamente e ilegitimamente utilizar esse período experimental como trabalho temporário, a termo, aquilo que nos está a marcar é o segundo risco. Qual é o jovem hoje que entra numa empresa…eu pergunto aos empresários e pergunto aos jovens…sem passar por seis meses, mais seis meses, mais seis meses?

ARF: São todos, praticamente…


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