O monstro do IVA ataca de novo?

Um grupo de fiscalistas da orla do poder apresentou um estudo em matéria de fiscalidade que pode ser avaliado para os precários como estando entre o ridículo e a afronta.

Então, dizem os excelentíssimos senhores António Carlos Santos, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Ferreira Martins, docente universitário e Nunes dos Reis, ex-director-geral da máquina fiscal, que o objectivo das propostas é reduzir ao “mínimo” os beneficiários no actual regime de isenção do imposto para travar a fuga e a fraude fiscal ao imposto.

Ignorando que em Portugal existem cerca de 900 mil falsos Recibos Verdes (a maioria deles ganhando menos de 10.000€/ano) ou seja, quase um milhão de pessoas cujos patrões não pagam o que devem ao Estado e à Segurança Social, e muito menos aos trabalhadores explorados sem os mínimos direitos legais exigíveis, vêm os muito respeitosos especialistas em questões fiscais, propor que essas pessoas passem a “pagar” IVA.

Ou seja, na prática, significa que boa parte da força de trabalho mais explorada e fragilizada a nível nacional terá de apresentar uma conta ao patrão com mais 20% em cima do seu salário. Não será preciso ser um distinto especialista para saber o que acontecerá se chegarem ao seu precário posto de trabalho e pedirem mais 20% ao patrão.

Os especialistas passam para o campo do ridículo quando dizem que a isenção de IVA “arrisca-se a ser uma fonte de alimentação do mercado paralelo e da fuga e evasão fiscais”. Num país onde a lei do trabalho não é cumprida em tantas empresas, em que quase um milhão de pessoas circula e vende o seu trabalho de forma alheia ao Código do Trabalho e à inexistente ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho), onde os patrões não pagam à Segurança Social o que devem, onde profissões como o Jornalismo, Arquitectura, Artes e Espectáculos e tantas outras funcionam quase literalmente à margem da lei, só a falta completa de respeito por quem vive do seu trabalho é que lhes permite abrirem a boca para propor estas alterações.

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