O plano
O plano continua. Tudo certo. Oliveira e Costa levantou o seu passaporte no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e está em parte incerta. Se a proposta de António Lobo de Xavier for aceite, os capitais terão liberdade total de circulação de e para o país, que tornará Portugal num dos maiores offshores do Mundo. O FMI quer que seja entregue sem condições a soberania orçamental dos países do Euro, que deixarão de poder decidir o que quer que seja sobre a maneira como gastam o dinheiro. Tudo bate certo.
De facto não há nada de estranho nas notícias avançadas. Se a população portuguesa e quem trabalha já pagou várias vezes a dívida criada pelo BPN de Oliveira e Costa, se já tantos ex-administradores do BPN e da SLN foram parar ao actual governo, porque motivo não poderia o banqueiro deslocar-se para paragens mais paradisíacas, especialmente quando parece que esta noite vai começar a chover? Se os capitais poderão circular pelo país sem pagar impostos, entrar e sair sem contribuir o que quer que seja para quem aqui vive, porque não há-de este senhor arguido-accionista poder viajar, apesar da polícia andar à sua procura e de ter um Termo de Identidade e Residência? Se o capital poderá circular sem lei nem regras, porque não há-de o capitalista circular nas mesmas condições? E na mesma sequência, porque não há-de o Estado entregar toda e qualquer capacidade de gerir os dinheiros público e produzir orçamentos a um organismo externo qualquer? Se já se sabe que o dinheiro serve apenas para pagar a dívida, para resgatar a banca e o sector financeiro, porque não há-de o Estado entregar-se, dizer: rendo-me! – à troika? É esse o plano. O tal do memorando. O Oliveira e Costa que vá de férias, o seu capital que circule consigo – numa malinha ou através de uma linha de crédito, não taxada que isso não atrai investimento nem é competitivo – os papéis dos swaps que se destruam no dia a seguir a ser assinados, o Ricardo Salgado que não declare os seus rendimentos, que receba através de offshores (serão já os novos de Lisboa ou do Porto?). É tudo isso que temos contra nós, e precisamos sabê-lo. Que saibamos que é tudo uma grande torrente, um grande plano. Que saibamos que há uma locomotiva que acelera contra nós, que acelera, ceifando vidas à passagem, que se não forem partidos os carris nos atropelará a todos. É conduzida pela troika e pelos governos que se entregam a ela para defender os interesses de pessoas como José Oliveira e Costa, que após provocar um buraco de mais de 6 mil milhões de euros nas contas públicas, não respondeu em tribunal e se encontra hoje em parte incerta. O plano tem duas faces: destruir-nos para resgatar quem provocou a crise, quem era rico antes dela e quem dela quer sair com ainda mais riqueza e, principalmente, com o poder absoluto.
“A nossa economia está a dar a volta” dizia ontem o Passos Coelho. De facto, a volta já é completa e as dissimulações não se sustentam, o “novo ciclo” é o ciclo do fim do teatro. A nossa economia está a ser planificada para entregar tudo o que nós produzimos e as nossas próprias vidas a quem destruiu o país e a sua economia.
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