Opinião: Álvaro Santos Pereira “falou demais” e revelou o que pensa sobre as mulheres
O Ministro da Economia e do Emprego tem sem dúvida um fetiche – o século XIX. Mas o que o inspira não são os versos de Novalis, os romances de Balzac ou os Nocturnos de Chopin. Nem mesmo a Paris da Bélle Epóque. O que o inspira é a «fábrica» e por isso estremece quando ouve a palavra «proletariado», delira com trabalho não pago, e sente arrepios quando alguém fala em exploração do trabalho feminino.
Por esta razão, hoje, no Parlamento, foi genuíno quando respondeu à questão do PCP sobre a actual diferenciação salarial entre homens e mulheres que ocupam as mesmas funções:
ASP – Concordo que se as mulheres tiverem a mesma produtividade do que os homens devem receber o mesmo salário.
Quem formula assim aquela resposta só pode suspeitar à partida de que as mulheres produzem menos porque são mulheres ou considera que as suas vidas estão associadas a limitações que irremediavelmente as impedem de auferir um salário igual ao dos homens. O «se» convoca uma realidade possível que se subestima e na qual, na verdade, não se acredita.
Entre as limitações biológicas ligadas à maternidade e as que se acumulam com a organização social regulada pelo sexismo e pelo machismo poderá haver diferenças na produtividade, sim. E depois? Quem decide ser mãe tem de escolher entre o prémio no final do ano ou ter um filho? Quem decide quem fica em casa com o filho doente?
Corremos o risco de parecer antiquados/as, mas exigir salário igual para trabalho igual e exigir direitos laborais relacionados com a parentalidade é tão actual quanto a boçalidade que julgávamos já não ser possível ouvir, pelo menos, na boca de alguém que ocupa o lugar de Ministro da Economia.
Todavia, houve alguém que superou a ofensa e investiu na desgarrada machista – no final da tarde, no mesmo debate do Parlamento, o deputado do PS Basílio Horta resolveu comentar as declarações do Ministro que entretanto se desculpou com equívocos e loas à igualdade:
BH – Também sou completamente a favor da igualdade, igualdade total. Bom, na totalidade talvez seja um pouco excessivo…
E pronto, são estas as criaturas que nos governam e nos roubam o salário. Até quando?
Alguns exemplos actuais da desigualdade: aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Sofia Roque.
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Pronto é por frases como esta “Então e «se» as mulheres tiverem mesmo menos produtividade do que os homens porque têm de faltar mais vezes para ficar com os filhos doentes em casa, porque faltam com uma licença de maternidade, porque têm uma gravidez de risco, porque tiveram de ir às reuniões na escola, porque…”
que são um insulto para mim como pai que me mantenho afastado do vosso movimento.
Parece-me óbvio que hoje em dia estamos longe de uma igualdade de género neste país. E achar que isso não existe é estar a fechar os olhos à realidade. Só porque como pai faz as funções que deve fazer isso não invalida nada do que foi dito aqui. Entre contratar uma mulher ou um homem para o mesmo lugar preferem normalmente um homem porque não engravida por exemplo. Felizmente hoje em dia as coisas começam a mudar e ha mais homens que de facto se preocupam com as tarefas domesticas e com os filhos. Mas infelizmente não são a norma! Não me parece que seja motivo para se afastar do movimento! http://aeiou.visao.pt/dia-da-mulher-elas-trabalham-mais-16-horas-por-semana-do-que-eles-e-ganham-menos-em-trabalhos-iguais=f550937
Cara Sara,
Lamentavelmente o vosso movimento não se restringe a questões laborais cuja luta é mais do que justa. Infelizmente, seguindo a agenda política da extrema esquerda, apoiam questões como a manutenção da actual lei do aborto. Eu, estando completamente afastado do qualquer espectro político-partidário, votei contra a despenalização do Aborto e voltaria a fazê-lo hoje. Assim, não me posso comprometer com um movimento que não me parece de todo isento. Aplaudirei a vossa luta em termos laborais, que é também a minha luta, eterno bolseiro de investigação científica.