Opinião: Moche à Grécia!

Épicos dias em que vivemos: o acordo das lideranças europeias acerca da austeridade, precariedade e desemprego como única estratégia unifica-se no ataque cerrado ao único país que até hoje se levantou para dizer que é um país, que a sua população anda, e não rasteja, e que as suas decisões soberanas serão soberanas.

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A mesquinhez da elite formada no espírito e Chile de Augusto Pinochet revela-se, uma e outra vez, para mostrar como utiliza o que há de mais asqueroso no ser humano para garantir a manutenção da miséria, materializada na austeridade europeia. Sempre foi esse o jogo: atirar precários contra desempregados, funcionários públicos contra trabalhadores do privado, portugueses pobres contra gregos miseráveis. Tudo para garantir que vivemos no melhor (pior) mundo possível e que não poderá jamais ser de outra maneira.

Só cá no burgo, diz o ex-administrador do BES e economista de ponta do Governo, Vítor Bento, que “A Europa é um camião e que é bom que o mini-Grécia se desvie”. À falta de argumento, é ir buscar a cilindrada. “Fonte” do governo português acusa a Grécia de “estar a fazer chantagem inadmissível” sobre a UE, enquanto Cavaco Silva se limita no seu tom tumular a dizer que “não podem haver excepções” para a Grécia. Descendo na escala acabamos com o PSD a dizer que o Syriza é a “cirrose da Europa” em pleno parlamento e o  jota-deputado Duarte Marques, que diz que “A democracia tem regras e são iguais para todos – mesmo para os gregos”. A definição de democracia será, naturalmente, a sua: que se minta durante a campanha eleitoral e depois se aplique um programa contrário àquele para o qual se foi eleito. Transformar o governo grego em mais um dos boys.

Lá por fora acordo total entre liberais e socialistas/sociais-democratas na política de barbárie. Governo o alemão e principal partido da oposição (SPD, o PS local) falam a uma voz: o ministro dos Negócios Estrangeiros diz que “o objectivo é manter a Grécia no euro, mas isso não vai acontecer se a Grécia não mudar a sua posição”, enquanto o deputado do SPD Johannes Kahrs atira à cabeça “Varoufakis não é um parceiro em que possamos confiar”.”. Pierre Moscovici, comissário europeu dos assuntos económicos e financeiros diz que a negociação rompida “não levaria a cortes brutais. Queremos que as pessoas que têm pensões mais baixas conseguem manter essa pensão, mas temos de garantir também que as medidas tomadas são sustentáveis” – que traduzido implica, só, mais cortes. O presidente do Eurogrupo, já ameaça com sanções pós-saída do Euro: “A dívida não desaparece automaticamente por um país sair da zona euro”.

No meio do “moche à Grécia” a que assistimos podemos observar onde se sentem melhor os politicos do centrão e do status quo: fiéis à sua natureza, é na lama que querem afundar a Grécia, obrigar o governo a ceder em todo o seu programa, a burlar a população que lhe deu uma mandato. Qualquer que seja o desfecho, a natureza estrutural da União Europeia mostra que a democracia é acessória e só os mandos da finança valem. Evitando a lama, Tsipras diz-se pronto a assumir as responsabilidades de rejeitar um mau acordo. Haja quem resista!

João Camargo

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