Opinião: O Governo vai cair

Tonight’s the night. Pelo menos parece que sim. Sócrates deve apresentar a demissão como resultado da aprovação dos projectos de resolução dos partidos da oposição que rejeitam o PEC4. Muito se tem dito e escrito sobre os problemas que este Governo trouxe ao se comprometer com um PEC em Bruxelas e não ter dito nada aos parceiros sociais, aos outros partidos e ao Presidente da República, mas, na verdade, temos de ver bem porque é que o Governo vai cair. As coisas são sempre mais complexas do que parecem.


O PEC4, tal como os anteriores, tem o alvo bem definido: as pessoas que trabalham, ou que já trabalharam, e os mais pobres entre os mais pobres. Pelos pingos da chuva e pelos formalismos institucionais o Governo pretendia fazer passar a ideia de que isto seria apenas uma “actualização” dos PEC, no entanto este pacote de austeridade vale 6.912,5 milhões de euros, ou seja, mais do que o PEC1 e PEC2 somados.

Durante a aplicação destes pacotes de austeridade que custaram 16.760,7 milhões aos portugueses e às portuguesas e apenas 2.060 milhões de euros aos bancos, empresas e população mais rica, o Governo minoritário do PS foi contestado na rua através de uma Greve Geral e de uma mega manifestação da Geração à Rasca que juntou quase 400 mil pessoas em todo o país.

A questão é simples, a austeridade está a criar mais desemprego e piores condições de vida e o Governo só conseguiu responder a isso com mais austeridade e com mais precariedade. As pessoas sabem que isso não funciona e têm exigido respostas novas. Pressionado pela Europa de Merkel, pela Europa da vertigem monetarista, o Governo viu-se entre a espada e a parede.

Na manifestação de 12 de Março muitas pessoas exigiram respostas para as suas vidas, mas as sondagens dizem que 70% dos cidadãos e das cidadãs não queriam a queda do Governo. O que as pessoas exigem e têm exigido são respostas do poder político para as suas vidas, aliás é para isso que servem os Governos e as democracias, para termos sempre a possibilidade de haver novas respostas.

Não sabemos se Sócrates irá mesmo embora hoje e nem nos interessa quem poderá ganhar umas hipotéticas eleições, mas o que sabemos é que qualquer que seja o enquadramento institucional que aí vem, os seus responsáveis têm a responsabilidade de resolver o problema do desemprego e da precariedade.
Já o dissemos: assim não dá.

Ricardo Santana

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