Opinião: Os precários não fazem greve?
Quando parte da população perde as suas garantias o que sobra do Estado de Direito?
Muitos precários trabalham horas sem fim. Trabalham aos domingos e aos feriados. Por menos que o salário mínimo não fazem férias, não fazem amigos, não fazem filhos, não fazem vida. Não existem para a segurança social. “Que força é essa que os faz obedecer?”, não é uma força, é um medo: vertiginoso e constante, servido pelo patrão à hora de picar o ponto. O desemprego, a desesperança de não ter um salário condigno. E é esta mesma chantagem, que no dia-a-dia lhes baixa a cabeça, não lhes permite reivindicar o mais cru dos direitos laborais, e que, por mais que certas razões, os impede de exercer um direito ainda maior, um direito de democracia e liberdade: o direito à greve.
A 24 de Novembro, quando parte do país parar para a greve geral, milhares e milhares estarão nos seus postos de trabalho sem que essa escolha lhes seja assegurada. E ao fim e ao cabo, não é a um Estado que se rege pelo direito e não pelo autoritarismo, que chamamos Estado de Direito? Será que continuamos num Estado de Direito democrático quando o poder político nada faz para assegurar as suas expressões, aquilo que o caracteriza?
Se, no dia 24, muitos precários não se interrogarem sob a subtracção de um direito cívico e constitucional teremos, ainda mais, de nos interrogar sobre os alicerces que o Estado construiu para se manter. Mais do que desejar que os precários ranjam os dentes no trabalho, seria um apelo de coragem última, de um convite ao limite para que quem já não tem nada a perder: precários, juntem-se à greve. Num tal momento de solidariedade, que a individualização trazida pela precariedade faz soçobrar, a economia tremeria e quem detém o poder financeiro haveria de assumir a existência daqueles que trata como não existente.
Mas que não caiba tudo aos precários. Aqueles que ainda podem fazer greve têm um papel crucial a desempenhar para não perderem esta arma: denunciem a precariedade, não a aceitem, juntem-se aos piquetes de greve, apoiem um dia de trabalho que transpire insatisfação. Afinal, se não podemos contar com este governo para garantir o Estado de Direito, teremos de ser nós a manter o direito que falta ao Estado.
Sara G.
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