Opinião: Publicidade do Pingo Doce (0%)
Estamos todos a ser horrivelmente saturados com a publicidade 0% do Pingo Doce. Em qualquer canal, em horário nobre, levamos com 3 anúncios por intervalo. Quem não sabe já quase de cor a letra daquela música, que ainda por cima, é daquelas que fica na cabeça e se cantarola o resto do dia?
Algumas pessoas começam a questionar-se quanto terá investido a Jerónimo Martins nesta campanha? Um pequeno balúrdio!?! Posso dizer que não sei, mas arriscaria, olhando para a cobertura dos meios, que deve rondar os 25/30 milhões de euros.
Algumas pessoas começam a questionar-se quanto terá investido a Jerónimo Martins nesta campanha? Um pequeno balúrdio!?! Posso dizer que não sei, mas arriscaria, olhando para a cobertura dos meios, que deve rondar os 25/30 milhões de euros.
“No acumulado de Janeiro a Outubro a liderança permanece também nas mãos das marcas de distribuição da Sonae, com o Modelo Continente a representar um volume de investimento de 162,5 milhões de euros. Seguem-se (…) Pingo Doce (82,3 milhões).” (Aqui)
Pergunto: Quem paga estes milhões todos????? Obviamente que os capitais que estas empresas conseguem acumular para investir em publicidade vêm, sem dúvida de terem custos reduzidos quando comparados com os proveitos. Não vêm de certeza dos bolsos dos sócios. Ora duas uma (ou mesmo as duas): ou os clientes pagam preços demasiado altos quando comparados com os preços de custo deles, ou os empregados recebem menos do que produzem! Ou seja, cai sempre aos mesmos: NÓS!!!!!! Nós pagamos muito (com a precariedade e os preços cada vez mais altos) para levar com uma enxurrada de publicidade cansativa!
Letra da música do anúncio:
Zero de incerteza
Zero de preocupação
Zero de aumento
O IVA aqui não sobe não
No Pingo Doce o preço é baixo o ano inteiro
No Pingo Doce vale mais o seu dinheiro
Proposta de letra para um próximo anúncio (VERDADEIRO)
Zero de certezas
Todas as preocupações
Zero de direitos
O salário aqui não sobe não
No Pingo Doce os salários são baixos o ano inteiro
No Pingo Doce vale pouco o seu dinheiro
Leonor
by
É uma pena que disparem cegamente.
A publicidade é irritante, sim. Mas o grupo Jerónimo Martins paga acima da média e tem preocupações sociais.
Nunca tenhas pena de um patrão, pois também ele não terá pena de ti se tiver que tomar decisões.
Lembro-me sempre de uma imagem nos EUA, no início da crise, um senhor à porta de uma fábrica, dizer que tinha dado tudo da sua vida à mesma, estava lá há trinta anos, sem nunca ter faltado ao emprego um único dia (!!!), e foi o primeiro a ser despedido na reestruturação da empresa.
O mundo empresarial é racional, não é emocional. Por que raio só a entidade patronal é que pode ser racional? Se fores ao Pingo Doce (ou a uma outra empresa qq) e disseres: «meus amigos, eu trabalho aqui como Caixa ou repositor, mas assim que tiver melhor, vou-me embora.», eles ficam que nem virgens ofendidas e não te metem, preferindo alguém menos ambicioso na vida ou com menos habilitações. Mas se forem eles a dizer: «meu amigo, você está aqui a cumprir trabalho temporário de um, dois meses, e depois vá à sua vida», ninguém se ofende e não há problemas de consciência.
Hipocrisia.
Uma grande empresa, só se torna «grande» devido aos seus trabalhadores. Os empregadores têm que se mentalizar disso. E os trabalhadores têm que se mentalizar que um dia destes fazem uma revolução, pois são eles que sustentam a realidade social / económica.
Dá uma certa «piada» ver na TV os comentadores a dizer que a realidade hoje em dia é precária porque «tem de ser», o «mundo é diferente», «estamos em crise», etc. Parece que somos todos obrigados a aceitar a «realidade» tal como ela é. Curiosamente, quem emite essas opiniões, é sempre gente de bem, que nunca teve que meter as mãos na merda para fazer algo na vida. Faz-me lembrar aquelas pessoas famosas: «ah, aquele / a XPTO lutou muito pela vida e para ter o que tem». É muito fácil lutar pela vida, quando se faz algo bem pago, que dê prazer, estatuto, e estabilidade financeira e mental. De certeza que esse mesmo «famoso», não teve que ir limpar merda para o Vasco da Gama de madrugada e apanhar o combóio para ir para casa, ou um segundo emprego, de manhã na Gare do Oriente (quem apanhar combóio a essas horas, vê bem a outra «Lisboa», aquela das que limpam a merda de quem vai lá comprar coisas às 10h da manhã). Neste país há muita gente a cagar sentenças de boca cheia, que nunca fez nada na vida. É muito fácil alguém tornar-se «ídolo» em Portugal – seja ele «ídolo» político, social, universitário, etc. Basta cair na graça de dois ou três influentes e é-se alguém para o resto da vida. Os outros? Bem, os outros são «estúpidos», aceitam a realidade e nem reclamam – pensam eles. Há-de chegar o dia em que a bolha arrebenta.