Opinião: Ultrapassar todos os limites

Após na semana anterior Pedro Passos Coelho ter anunciado que o país tinha de empobrecer, eis que este fim-de-semana o secretário de Estado da Juventude e do Desporto vem aconselhar os jovens portugueses a emigrar. Todos os limites do razoável são ultrapassados em 3 meses deste governo ultra-liberal e ultra-conservador.

A emigração é um fenómeno normal e recorrente em Portugal como em outros países. As pessoas emigram principalmente por necessidade, mas também o fazem porque desejam ter uma vida melhor, diferente ou simplesmente por aventura. São opções pessoais, muitas vezes difíceis e implicam a separação de lugares, pessoas, vidas construídas, amores, amizades. São opções muitas vezes forçadas pelas conjunturas, como é exemplo a crise actual, que está a levar muita gente a deixar o país.
Mas hoje vemos uma nova ideia. Hoje o Governo português, pela voz de Alexandre Miguel Mestre, advogado de 37 anos, vem apelar às e aos jovens portugueses, em particular aos desempregados, que abandonem o país. Numa linguagem muito viperina insulta as pessoas nesta situação, exortanda-os a emigrar em vez de ficarem na sua “zona de conforto”. Zona de Conforto? Que conforto têm jovens que não podem sair de casa de seus pais, que não podem ser independentes, que não podem ter uma família própria, por serem desempregados? É curioso como aqueles que estão confortáveis vêm sempre pregar a quem está mal e dar-lhes lições de moral sobre situações que não conhecem.
O secretário de estado ainda vem pedir que caso esses jovens voltem, possam regressar depois de conhecer as “boas práticas” dos outros países e “replicar” o que viram para “dinamizar, inovar e empreender”. Ao invés de exortar o Governo a promover o emprego, as boas práticas e outras hipóteses, Mestre vem menorizar absolutamente os trabalhadores e as trabalhadoras, contribuindo para o chauvinismo racista, colocando-nos como uns coitadinhos que apenas têm que aprender com o que se passa lá fora, como se houvesse diferenças fundamentais.
Para Alexandre Mestre, não há problema algum em mandar embora jovens do país, pessoas com mais potencial de efectuar mudanças, com ideias novas. Não se importa este governo em expulsar os seus cidadãos e cidadãs, primeiro pelas medidas de austeridade draconianas que está a tomar, e depois pelo apelo directo à emigração! Quem são as pessoas que hoje nos governam? Quem são as pessoas que nos dizem que temos de ficar todos mais pobres para que eles e os seus patrocinadores fiquem mais ricos? Quem são estas pessoas que nos dizem para arrumarmos malas e bagagens e abandonarmos as nossas cidades, as nossas ruas, amigos, amigas, família? Cada dia que passa me parece que não são nem serão um governo, mas única e exclusivamente um colectivo de cobradores de impostos, de gestores de falência que leiloam tudo quanto possam vender, daquilo que um dia foi nosso.
Este governo desistiu de governar, desistiu deste país e pede a todos e a todas que desistam também. As “soluções” que têm não são soluções, a não ser que contemos como solução a destruição da população, da natureza, da qualidade de vida. Isso não é solução. Isso não é governar. Este governo aceitou a sua posição subalterna e pretende entregar este país a quem pagar mais. Não pretendemos aceitar este conselho do governo, nem desistir da ideia de que em democracia há sempre alternativas, e que lutaremos por elas. Mas permitimo-nos por outro lado dar-lhes também um conselho: Emigrem Vocês!

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