País positivo?
“País positivo” é o irónico nome para uma revista que, no essencial, trata de desgraças: emprego, mas sobretudo desemprego; leis laborais e suas “possibilidades” e “limitações”; também, é claro, alguns “casos de sucesso” do fantástico e distante “mundo empresarial”.
Esta revista – que aparece, de vez em quando, sem ninguém a pedir, no meio do jornal Público –, no seu último número, inclui uma entrevista a Vieira da Silva, Ministro do Trabalho e da Segurança Social. Estas duas páginas – “entaladas” entre várias outras que clamam contra a “rigidez laboral” ou exigem flexibilizar o emprego (e os despedimentos) – servem fundamentalmente para o Governo anunciar preocupação com o “mundo do trabalho”. Temas escolhidos: qualificação, higiene e segurança, mas também o desemprego e a precariedade. Novidade: o sr. Ministro descobriu que “a precariedade no trabalho é uma questão transversal a todos os sectores”. Problema (antigo): Vieira da Silva diz estas palavras em jeito de lamento encolhido, porque, no fundo, a precariedade é apenas uma espécie de dano colateral da prática política do seu Governo. Ou, talvez melhor: a precariedade, os salários baixos, a erosão da capacidade de intervenção dos trabalhadores, a chantagem do tipo “caladinho para não perder o emprego pó mês que vem”, são factos previstos e desejados por estas governações da desistência. Neste “único caminho” que inventaram para as nossas vidas, preocupa-lhes apenas que pareça normal e inevitável aumentar os lucros dos ociosos para que eles nos possam presentear com as suas migalhas.
Pois bem, sr. Ministro, declaro-me inflexível! E sei que somos muitos.
(nota final: é impossível não incomodar ver Vieira da Silva entre o título da revista e o título da capa…)
Tiago Gillot
estagiário precário