Passos Coelho "Estar desempregado não pode ser um sinal negativo"

Hoje pudemos observar o mais recente momento de uma aparente esquizofrenia deste governo, encarnada no seu responsável máximo, Pedro Passos Coelho. O primeiro-ministro apresentou hoje ao país a ideia de que “estar desempregado não pode ser um sinal negativo“. 
A desconexão com a realidade do primeiro-ministro só é comparável à fé fundamentalista que o mesmo tem em relação à ‘economia livre’, aos ‘mercados’ e à política de austeridade.


No lançamento do Programa Estratégico +E +I (Mais Empreendedorismo, Mais Inovação), para o qual o governo, em altura de cortes massivos, disponibilizou 300 milhões de euros para as empresas,o primeiro-ministro veio defender que:
Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem que ser um estigma. Tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida. Tem de representar uma livre escolha também. Uma mobilidade da própria sociedade.
A crítica às afirmações anteriores é bastante auto-evidente. Passos Coelho, que lidera um país onde a explosão do desemprego comandada por si já atingiu mais de 1 milhão e 200 mil pessoas, vem agora dizer que essa até é uma situação boa, positiva. Antes havia dito às pessoas para não serem “piegas”, que não se queixassem enquanto ele destruía as suas vidas. Acreditamos plenamente que para Passos Coelho despedir não deve ser um estigma. Jamais esteve na posição de ser despedido, deve imaginar que é muito simples. Como deve imaginar também a situação de estar desempregado, uma vez que nunca passou pela mesma. As facilidades da vida de uma minoria contrastam com as dificuldades da maioria. A sua maneira de pensar está desligada da realidade da vida de milhões de pessoas, a maioria absoluta que vive neste país. Mas é essa minoria, social e económica, que lidera o país.

Hoje são aqueles que nunca saíram de cima que falam da mobilidade social. Essa teoria abstracta do “elevador social”, também defendida por Paulo Portas, contrasta absolutamente com a realidade: o elevador não sai do último andar, e cada pessoa que atravessa a porta cai no poço. E esse poço é o desemprego. O resultado não é bonito. Não é um “sinal” negativo, é a destruição das condições de vida das pessoas. Não é uma oportunidade para mudar de vida, excepto se por ‘mudar’ entendermos arruinar. E não é também uma livre escolha – as pessoas em Portugal estão a ser empurradas para o desemprego, para o poço do elevador. E Passos Coelho é a mão que mais descaradamente o faz.




No último MayDay Lisboa foi criado um personagem satírico que exacerbava as virtudes da pobreza, da emigração, da competitividade na China, da precariedade, do desemprego. Hoje, Passos Coelho atira a sátira para o lixo e ultrapassa inapelavelmente a ficção. Não parece viver no mesmo mundo que a maioria das pessoas: “Desemprego é bom”, “Precariedade é bom”, “Emigrar é moderno”, “Sofrer é uma virtude”, “Empobrecer é preciso”.

E quando a realidade ultrapassa a ficção, todos nos sentimos ligeiramente deslocados. Pedro Passos Coelho, o mesmo que lidera o governo e que defendeu que temos de empobrecer, que devemos emigrar, culmina esta estratégia com a defesa de que estar desempregado não é negativo, mas sim uma oportunidade. A referência da estratégia política de Passos Coelho parece vertida da escrita de George Orwell, “1984”. Neste livro, escrito como alerta mas agora usado como manual de instruções, podemos observar como se subvertem todos os conceitos e linguagem, na famosa tríade: “Guerra é Paz”, “Liberdade é Escravatura”, “Ignorância é Força”. A nova tríade de Passos é a seguinte: “Empobrecer é Enriquecer o país”, “Ser expulso do país é valoroso”, e a cereja no topo do bolo “Estar desempregado é uma oportunidade”. Temos portanto duas possibilidades: um primeiro-ministro aprendiz num regime de austeridade e autoritário, ou um primeiro-ministro irresponsável e inconsciente, perto do lunatismo.

Os Precários Inflexíveis manterão sempre a firme coerência de, em tempos de propaga
nda massiva e em que as pessoas são confrontadas pela mentira constante, reflectir e agir sobre aquilo que é concreto e diz respeito à vida de cada um e cada uma, usando as palavras com os seus verdadeiros significados e não deixando que as mesmas sejam capturadas, alteradas e roubadas. 

“Em tempos de mentira universal, dizer a verdade é um acto revolucionário”




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