Patrões continuam a exigir dividendos da crise
António Saraiva, Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), comentou ontem os novos números (sempre a subir) do desemprego, à saída duma reunião no Palácio de Belém. Além de, como não poderia deixar de ser, “lamentar” o crescimento imparável da taxa de desemprego, o novo patrão dos patrões tinha um sondbyte na manga: é preciso “atacar as causas e não os efeitos“.
Mas este aparente exercício de exigência é apenas mais do mesmo. O problema é o “crescimento” (ou a falta dele) e, portanto, é preciso “apoiar as empresas”, porque “são elas as criadoras ou, pelo menos, as defensoras da manutenção do emprego”. Anotamos que, ao continuar a exigir apoios sob chantagem e oferecendo poucas ou nenhumas contrapartidas, Saraiva mantém o decaramento do seu antecessor, Francisco Van Zeller.
Mas a frase avança um pouco mais: em patronês, já sabemos, “atacar as causas” significa uma estratégia para exigir mais transferências (do nosso trabalho e dos nossos impostos) para as empresas; e abdicar de tratar dos “efeitos”, o que será? Sugere António Saraiva que se corte nos (já muito insuficientes e cada vez menos abrangentes) apoios sociais em situação de dificuldade, como o subsídio de desemprego? Tudo se pode esperar, vindo de um homem que ainda há pouco tempo sugeria que os desempregados fossem obrigados a limpar matas…
A verdade é que, enquanto nos acusam de ociosos beneficiários dum Estado social benevolente, não cessam de estender a mão e exigir privilégios, com o dinheiro que é de todos. E, ao contrário da maioria que agoniza, não se têm saído nada mal.






