Patrões e governo :: Quanto mais baixos os salários, melhor estará o país para responder à crise
O SMN para 2011 subirá apenas 10€ em Janeiro, valor que nem dará para cobrir a inflação. Relembramos que o acordo em Concertação Social de 2006 servia para corrigir precisamente as perdas reais do SMN perante a inflação, se assim não fosse, hoje o SMN seria de 560€.
Mas com a inversão de estratégia patrões e governo juntaram-se (com a vassalagem usual da UGT) para rasgar o contrato social que assumiram com os trabalhadores que menos recebem. Helena André – Ministra do Trabalho – afirma mesmo que a forma (faseada) de aumento do SMN é a única forma possível dada a conjuntura de crise que o país atravessa, sublinhando assim, que do seu ponto de vista, os salários mais baixos e uma subida de 0,83cts por dia seriam um problema para a economia nacional.
Para Helena André, para o governo e para os patrões, quanto pior estiverem os assalariados em Portugal, melhor estará a economia preparada para fazer frente à crise.
O SMN voltará a perder poder de compra em 2011. Quem tem menos, terá menos ainda. Mas alguns números contradizem a tese de que a crise é para todos ou de que são os salários baixos que são responsáveis pelas dificuldades das empresas…
Vejamos alguns números:
- Há cerca de 330 mil pessoas a ganhar o mínimo em Portugal.
- O aumento do SMN tem impacto directo em cerca de meio milhão de trabalhadores (e indirecto no conjunto dos trabalhadores)
- O impacto máximo (medido pelo governo) do aumento de 10€ equivale a 0,2% dos custos salariais das empresas.
- 38% dos trabalhadores por conta de outrem do Norte ganham o SMN
- Na região de Lisboa serão entre 24,9% e 26%.
- Em Espanha o salário mínimo é de 633 euros, na Eslováquia de 510, na Grécia de 740 e na Irlanda é de 1387.
Segundo o DN, o salário mínimo médio projectado para 2011 rondará os 491 euros brutos (contando que irá chegar a 500€ em Outubro). Assim, o SMN representará 7% do ordenado-base mais baixo atribuído a executivos de topo, sem contar com prémios e outros benefícios. Um salário topo vai valer em 2011 mais do que 14 salários mínimos.
Segundo estudo salarial divulgado pelo Hay Group (consultora de gestão), o salário-base dos gestores de topo portugueses varia entre 6900 euros e 35 100 euros mensais (remuneração anual fixa a dividir por 14 meses), não contando com prémios, despesas várias, carro, combustível, comunicações, planos de saúde e reforma, entre outras formas de remuneração. Segundo o DN, considerando todas estas parcelas, o salário mínimo médio (esperado) de 491 euros em 2011 não chegará a 5% da remuneração global mais baixa concedida a um gestor de topo.
Segundo o INE, a desigualdade na distribuição dos rendimentos do trabalho voltou a subir em 2010: os 10% com melhores ordenados aumentaram diferença de rendimento perante os 10% mais pobres. Mas esta não é uma realidade apenas de Portugal. Os rendimentos dos presidentes executivos das 50 maiores empresas europeias equivalem a 441 salários mínimos da Zona Euro. Segundo o DN, existe ainda maior disparidade nos EUA, onde os presidentes ou gestores executivos das empresas recebem 1235 vezes mais do que quem recebe o mínimo.
Ver:
Um ordenado de topo vale 14 salários mínimos (em Portugal)
Gestores de topo ganham 441 salários mínimos (nas 50 maiores empresas europeias equivalem a 441 salários mínimos da Zona Euro)
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