Patrões querem menos feriados

Neste final de ano, os patrões abdicaram definitivamente de aderir ao espírito natalício e à trégua das festividades. Em pleno dia de Natal, invadiram os noticiários a clamar contra “o excesso de feriados”.

Paulo Nunes de Almeida, vice-presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), defende que, para enfrentar a crise, “devem ser tomadas medidas excepcionais”. Assim, defende que seja reduzido o número de feriados, que considera “excessivo”. E não se escusa à chantagem com o desemprego: “estando em causa a sobrevivência de postos de trabalho”, seria “facilmente compreensível um esforço colectivo”. A Igreja acha mal e diz que “ter momentos de celebração é, também, uma boa maneira de combater a crise”.

Os patrões estão-se nas tintas para os feriados, para o Natal e para o que pensamos deles. Se por estes dias a maioria descansa um pouco e tenta fazer contas à vida enquanto ouve na televisão gastarem-se palavras como “solidariedade” e “esperança”, os “empresários” sabem bem que não podem tirar o pé do acelerador da chantagem. A popularidade não tem sido uma preocupação para os patrões portugueses, é uma verdade: em Portugal o que vem rendendo há décadas é o descaramento total e a imposição de baixos salários e condições agravadas de exploração.

Não tem nada que saber. Por cá, estes senhores querem fazer-nos acreditar que temos que receber pouco e trabalhar muito – porque a alternativa só pode ser não ter trabalho e nada receber. Os feriados são uma desculpa nova, uma espécie de contra-ataque depois das investidas sobre o salário mínimo nacional e a tentativa de esticar o alcance do Código do Trabalho com os horários dos trabalhadores do comércio.

2010 está à porta, com tantos feriados como sempre. Sabemos que aí vêm também novas ofensivas e mais decaramento a cavalgar a crise: mais testes à capacidade de organização e resposta dos trabalhadores, para a qual queremos continuar a contribuir.

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