Pergunta do ano: Quem vai resgatar o BES?
O Banco Espírito Santo faz manchetes na imprensa internacional, e mais timidamente na nacional: Está em sérias condições financeiras. De acordo com a KPMG, o BES Internacional está a praticar um esquema em pirâmide (ponzi), dependendo da venda de dívidas a um fundo de investimento pertencente ao mesmo grupo. A ameaça de um colapso está pendente sobre mais um banco que foi financiado com dinheiro público para continuar as negociatas de sempre. A grande pergunta é: desta vez quem vai resgatar este banco privado?
A crise não é uma coisa da banca privada. Apesar de terem sido os esquemas de alavancagem, fraudes e malabarismo financeiro que criaram a maior crise económica e social desde 1929, apesar da banca privada ter sido resgatada pelos estados e depois ter sido amamentada por estes enquanto se espremiam as populações, a banca privada continua a dizer e a agir como se a crise não fosse coisa sua, apoiada pelas direcções políticas europeias, americanas e troikistas. E assim, mais uma vez o BES, um dos maiores bancos privados portugueses, que já recebeu do Estado garantias no valor de 4,75 mil milhões de euros (já se percebeu quem viveu acima das possibilidades de quem), voltou às práticas corriqueiras da banca privada, da engenharia financeira e da flexibilidade legal para inventarem multiplicadores para os lucros que distribuem pelos seus accionistas.
Só que desta vez alguém notou. Só o proteccionismo da imprensa nacional é que explica porque é que um assunto que faz capa do Wall Street Journal, por quem tantos mostram reverência, não passe de nota de rodapé em apenas alguns dos jornais portugueses, mais preocupados com a captura de Palito.
Mas a situação é grave: em Angola o BES tem um buraco de mais de 3,1 mil milhões de euros, o que já levou o governo angolano a dar garantias de resgate ao banco, nos EUA está a ser investigado por envolvimento em actividades ilícitas, enquanto em Portugal, cinco dos gestores e administradores do Banco estão a ser investigados por insider trading e tráfico de influências. O cerco aperta, e mesmo o anúncio de um aumento de capital acima dos mil milhões de euros não chegou para evitar que a cotação do banco tivesse caído 10% ontem e continue hoje em queda.
Já não importa muito a retórica de Ricardo Salgado, sobre se se devia demitir ou não ou se tudo foi feito dentro da lei. A lei é uma brincadeira para a banca privada. O que interessa saber é quem vai resgatar este banco. Porque ele será resgatado, segundo a velha e falsa premissa de que há certos bancos que são grandes demais para falir (Too big to fail).
Há três cenários em cima da mesa:
1) Mais uma vez o Estado intervém de forma explícita e injecta capital e garantias neste banco privado, impondo mais austeridade à população, pensionistas, trabalhadores, serviços públicos, etc.;
2) = banco é resgatado pelo BCE (mas se assim for, porque raio não foram os outros, e mesmo o próprio BES nos últimos anos, resgatados pelo BCE?);
3) Fica tudo muito caladinho e o governo injecta capital e dá novas garantias ao BES pela calada, sem nunca anunciá-lo publicamente e continua a dizer às populações que estas viveram acima das possibilidades, que o Estado é Gordo e que é por isso que é preciso tirar salários e pensões para pôr nas folhas de balanço dos Salgados e dos Ricciardi.
Pela experiência passada e pela opção entre o silêncio mediático e as diversões sobre as quezílias familiares Ricciardi-Salgado-Queiroz Pereira (com excepções), Governo e BES deverão cozinhar uma operação de bastidores. Não podemos deixar que um novo BPN passe em silêncio. O ciclo infernal da troika, tal como a crise financeira, está longe de ter acabado.
by