Portugal é o paraíso do Contact Center
O secretário-geral da Associação Portuguesa de Contact Centers, Francisco Cesário, veio num entrevista (aqui) dar-nos a conhecer o quão empreendor é o sector dos contact centers, campeão no que toca a novos investimentos e na criação de empregos. Bem, talvez não seja bem assim.
De acordo com Francisco Cesário, Portugal é excepcional a fornecer tecnologias de contact center, com recursos humanos dotados de grandes competências ao nível linguístico e que facilmente se adaptam a esta actividade. Mas o que ele quer mesmo dizer é que o pessoal qualificado em Portugal não tem grandes oportunidades de emprego e facilmente se adapta às condições por força da necessidade. Quanto às competências linguísticas, os salários não são proporcionais a essas mesmas competências e são muitos os estrangeiros que, em busca de melhores condições de trabalho, são falsamente aliciados para este país que tão mal trata os seus trabalhadores. O secretário-geral fala-nos, também, das fantásticas condições climatéricas e do genial posicionamento geográfico, mas o que ele quer mesmo dizer é que o país é atractivo para quem goste de mão-de-obra qualificada barata e para quem goste da possibilidade de despedir facilmente.
Trata-se de trabalhadores que, para além das condições precárias em que trabalham, estão sujeitos a cumprimento de objectivos, avaliações e pressões; trabalhando, muitas das vezes, em sítios sem janela e onde as pulgas podem aparecer para dar o ar da sua graça (ver notícia sobre o lado negro dos call centers aqui).
O representante da APCC fala de tudo menos de como somos excepcionais na prestação de condições de trabalho precárias e em como a crise e a flexibilidade das normas de trabalho as patrocinam. E assim se põe o país à venda, como El Dorado dos serviços de contact center em regime de outsourcing: venham lucrar connosco!
Entrevista ao antropólogo João Carlos Louçã sobre a realidade dos call centers aqui.
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