Portugal publica mais 68% de artigos científicos

Saiu hoje no Diário Económico uma notícia (sem link) com vários dados relevantes sobre a produção científica em Portugal.
Destaque-se a publicação de artigos científicos que aumentou em 68% de 2004 a 2008, chegando às mais de 12 mil publicações no fim deste período.
Destaque-se ainda a mão de obra qualificada envolvida neste aumento de produtividade. São um total de 40.563 investigadores (44% mulheres), sendo Portugal um país em que o crescimento anual de números de investigadores é 3 vezes superior à média europeia.
Até aqui, tudo bem…

A questão é que toda esta produção científica é, de facto, trabalho científico feito por pessoas. E todas as pessoas precisam de comer, pagar contas, ter tempo para tratar da sua vida pessoal… apesar de muitas das vezes fazerem o seu trabalho com toda a paixão e entrega do mundo.
Só que todo este aumento de produtividade é feito à custa de uma política que cria investigadores low cost: eles e elas são muitos e sem aumentos no valor da bolsas desde 2002, nem acesso a subsídio de férias, Natal ou desemprego, nem qualquer perspectiva real de ter um contrato de trabalho. O impacto é claro. Mais investigadores que são mais precários, com mais pressão para publicar mais. A sua vida precária vive a constante chantagem da publicação e da competição com outros grupos, não havendo uma compensação justa nos seus direitos laborais.
Esta política de esticar a corda aos bolseiros não pode aguentar muito tempo, mas por enquanto o centrão ainda acha que pode esticar mais. A semana passada deixaram ser rejeitadas duas propostas para actualizar o valor das bolsas de investigação científica. A grande desculpa era que nos outros países recebem menos. Se nos outros países exploram os investigadores, porque é nós cá não havemos também de poder fazer o mesmo?
E enquanto ouvimos histórias diariamente, por conhecimento próprio ou nas notícias, de que os nossos melhores cérebros preferem ir para o estrangeiro depois de se formarem em Portugal e de que os estão lá fora não encontram condições para voltar, o Ministro da Ciência, Mariano Gago, acha que estão a ser preguiçosos e não fazerem nada por voltar.
Certamente que este aumento do número de publicações seria quantitativa e qualitativamente melhor se houvesse algum respeito pelos investigadores deste país.
Notícia Público aqui
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